A escolha dos sistemas e materiais que serão usados em uma obra é prerrogativa do arquiteto autor do projeto e da construtora responsável pela execução. Porém, o cliente pode influenciar tanto as especificações quanto as compras.
“A participação do cliente inicia-se na concepção do projeto, cabendo à equipe contratada gerenciar possíveis adequações”, diz a engenheira Adriana Nunes Machado, superintendente de compras e logística da Hochtief do Brasil.
A participação do cliente inicia-se na concepção do projeto, cabendo à equipe contratada gerenciar possíveis adequações. ” Adriana Nunes Machado
Níveis de intervenção de materiais
O nível de intervenção do cliente vai depender do tipo de contrato firmado com a construtora. No caso do contrato regido pelo regime de Preço Global, a interferência do cliente na escolha do fornecedor é menor.
Já no contrato por administração pura ou por administração PMG (Preço Máximo Garantido), o contratante tem influência direta na escolha dos fornecedores e nas negociações comerciais.
Clientes que atuam no setor da construção civil podem ter boas experiências com determinados fornecedores e pedir sua contratação.
“Mesmo assim, é necessário que haja concorrência e que a decisão final seja tomada em conjunto – construtora e cliente”, assegura a engenheira.
Propostas comerciais
Para os produtos da curva A, entre os quais fundações, estruturas, instalações elétricas e hidráulicas, caixilharia, automação, ar-condicionado, luminárias e alguns acabamentos, Machado sugere solicitar de três a seis propostas comerciais para cada serviço, dependendo do budget destinado à compra. Quando necessário, a construtora deve se ocupar da equalização técnica dos produtos cotados entre os fornecedores.
Uma forma de se fazer isso é avaliar a condição dos concorrentes por sistema de notas, considerando critérios como capacidade de endividamento, situação financeira e balanço, para assegurar a entrega do produto contratado. Em alguns casos, o fornecedor participa com o cliente da mesa de negociação final.
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A nova versão do LEED exige que os fornecedores também sejam certificados para poder concorrer em obra que deseja o selo na modalidade Gold. ” Adriana Nunes Machado
Engenharia de valor
Algumas vezes, para evitar gastar além da verba disponível, é necessário um estudo prévio aplicando Engenharia de Valor, no qual são apresentadas as vantagens, desvantagens e diferença de custo para determinado serviço.
O papel do contratado é oferecer as opções, mas quem decide é o cliente, de acordo com seu budget e com o que ele pretende para o seu empreendimento.
“Se o cliente escolhe um revestimento em pedra importada, por exemplo, os profissionais que ele contratou devem lhe mostrar as opções do mercado, a partir de amostras, diferenças de custos e de acabamentos”, comenta a engenheira.
Clientes buscam sustentabilidade em certos materiais
Em busca de construções sustentáveis, muitos clientes vêm procurando se familiarizar com os produtos que podem entrar nos seus projetos.
Empreendimentos candidatos ao LEED ou ao AQUA contam, ainda, com consultorias especializadas que facilitam a especificação de materiais.
“A nova versão do LEED exige que os fornecedores também sejam certificados para poder concorrer em obra que deseja o selo na modalidade Gold”, lembra Machado, que exemplifica com o caso das marcenarias: se antes elas deveriam trabalhar apenas com madeira certificada, hoje elas próprias devem ter a certificação do GBC – Greenbuilding Council. Em muitos casos há poucos fornecedores preparados para atender essa exigência.
Preocupação com os prazos
Comum em todos os tipos de obra, a pressão que o cliente exerce para que os prazos sejam cumpridos naturalmente impacta o setor de suprimentos.
Em anos recentes, no boom da construção civil, o problema se tornou mais grave pois a indústria e os serviços ficaram sob excessiva demanda.
“Para locar uma grua, tínhamos de reservar com seis meses de antecedência. Hoje, esses equipamentos estão no mercado e são de fácil mobilização. O mesmo ocorre com os materiais, que estão com oferta maior do que a demanda”, observa a engenheira.
Redação AECweb / Construmarket
Colaborou para esta matéria
Adriana Nunes Machado – Formada em Engenheira Civil (1987) e em Administração de Empresas (1990) pela Universidade Mackenzie.
Certificação pelo Project Management Institute (PMI) e em Strategic Sourcing. Superintendente de suprimentos e logística da Hochtief do Brasil.