Com a alta do dólar e a volta da inflação, é necessário que o departamento de compras e suprimentos das construtoras mude a forma de comprar em momentos de crise.
“Dentre as várias funções do setor de suprimentos das construtoras está a realização de pesquisas e avaliações das ofertas de mercado.
Com base nessa avaliação, é necessário desenvolver estratégias para reduzir custos na compra de materiais e contratação de serviços, com o apoio em especial do setor de planejamento”, explica Heitor Cesar Riogi Haga, professor da Faculdade de Engenharia da FAAP – Fundação Armando Álvares Penteado.
Compra em volume x parcerias
As estratégias devem ser estabelecidas de acordo com a capacidade de cada empresa, relacionada ao seu porte e poder de negociação. Grandes empresas podem, por exemplo, comprar em grande volume ou firmar parcerias com fornecedores exclusivos.
Já as pequenas empresas podem antecipar o fechamento das contratações e, assim, obter maior controle dos custos dos materiais e serviços contratados.
É necessário desenvolver estratégias para reduzir custos na compra de materiais e contratação de serviços, com o apoio em especial do setor de planejamento. ” Heitor Haga
Fornecedores próximos
Haga recomenda que na busca por menores custos, o comprador dê preferência a produtos mais próximos da obra, de modo a garantir preços menores de frete.
Esse assunto já é abordado nas principais certificações ambientais de edifícios, como o AQUA e o LEED, que também considera a preocupação com a emissão de gases contribuintes para o efeito estufa e destruidores da camada de ozônio.
Negociação para comprar em momentos de crise
Como todas as empresas da cadeia produtiva da construção procuram reduzir seus custos –não apenas construtoras, mas também os setores de produção de materiais de construção e de comercialização – as negociações ficam mais acirradas, o que já é observado, principalmente, por parte das construtoras, que foram as primeiras a sentir no ‘bolso’ e têm renegociado alguns dos seus contratos de fornecimento de materiais e de serviços.
Os preços dos imóveis também acompanham as evoluções dos custos dos materiais, medidos pelos principais indicadores da construção, como o CUB – Custo Unitário Básico da Construção – ou o INCC – Índice Nacional de Custo da Construção.
“Porém, em situações de crise, os valores dos imóveis se mantêm e as construtoras precisam reduzir seus custos, o que é feito com o aumento da produtividade e da qualidade dos serviços”, diz o professor. Em momentos de crise, as funções e responsabilidades do setor de suprimentos das construtoras se tornam mais evidentes.
Ganham importância as atividades de transporte, inspeção e o controle da qualidade dos materiais, que devem ser coordenadas pelo setor de suprimentos, na busca da redução de perdas e consequente diminuição dos custos.
“Não existem exceções, pelo contrário, os preços dos materiais estão elevados e qualquer perda que ocorra em canteiro é significativa”, ressalta o engenheiro.
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Em situações de crise, os valores dos imóveis se mantêm e as construtoras precisam reduzir seus custos, o que é feito com o aumento da produtividade e da qualidade dos serviços. ” Heitor Haga
Aprendizado de como comprar em momentos de crise
No auge da expansão da construção civil, no Brasil, entre 2007 e 2011, os compradores das construtoras já não escolhiam fornecedor ou preço, mas compravam o que estivesse disponível. E, também, já não conseguiam apertar o fornecedor para adquirir pelo menor preço possível.
“Naquela época, as empresas tiveram que repensar a forma de construção, através da racionalização do trabalho da construção. Agora não será diferente. As construtoras estão fazendo seu ‘trabalho de casa’, que é a busca de alternativas para reduzir seus custos. É importante lembrar que as reduções de custo devem ocorrer não apenas na fase de execução, mas, principalmente, na fase de projeto. As certificações ambientais de edifícios têm subsidiado algumas construtoras nesse processo, que estão adotando seus conceitos em todas as suas obras”.
Fidelizar fornecedor é sempre uma política de compras bem-vinda. Para o professor, a fidelização ou parceria com fornecedores se torna mais evidente também na época de crise, em virtude de todas as empresas, construtoras e fornecedores, desejarem manter seus contratos ativos.
Segundo ele, a melhor receita para manter a saúde financeira das construtoras está na melhoria de gestão, entendida como melhor planejamento, controle e evolução dos seus processos produtivos e empresariais.
“Há pouco tempo, as obras cresceram de forma desordenada e sem se preocupar efetivamente com esses conceitos. O ‘trabalho de casa’ agora é voltar a estudar melhores formas de gestão das obras, capacitando os profissionais que estão abertos ao aperfeiçoamento”, recomenda Haga.
Redação AECweb / Construmarket
Colaborou para esta matéria
Heitor Cesar Riogi Haga – professor universitário e pesquisador, graduado em Engenharia Civil pela Escola de Engenharia de São Carlos da USP – EESC/USP (1995).
Mestre em Engenharia de Produção pela EESC/USP (2000). Doutor em Engenharia Civil pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo – EPUSP (2008). Atualmente é professor da Faculdade de Engenharia da Fundação Armando Álvares Penteado – FAAP -, da Faculdade de Engenharia São Paulo – FESP – e da FATEC Tatuapé (Fundação Paula Souza).
No campo profissional iniciou-se como Engenheiro de Obras e aprimorou-se na área de gestão, atuando nas áreas de planejamento, Qualidade e Sustentabilidade em empresas de construção civil.
Atualmente é consultor da Proactive Consultoria de Projetos, na implantação de Sistemas Integrados de Gestão, auxiliando construtoras e incorporadoras na obtenção de certificado AQUA (Alta Qualidade Ambiental) e na capacitação de seus profissionais.