Como escolher fornecedores sustentáveis?

É preciso avaliar qualidade, legalidade e formalidade

Escolher fornecedores sustentáveis para a construção civil nem sempre é uma tarefa fácil.
Há uma infinidade de produtos e fabricantes e muitos divulgam informações sobre eficiência e certificação. Na teoria, a maior parte dos produtos é sustentável. Mas na prática, não é bem assim. “O cliente deve confirmar a consistência e relevância das afirmações de ecoeficiência dos produtos e processos declarados pelos fornecedores. Até mesmo os produtos certificados podem levar a equívocos…. É preciso avaliar: Qual o critério da certificação? Estes critérios são públicos? Qual a seriedade do processo? ”, orienta a engenheira Vanessa Oliveira, coordenadora Técnica do CBCS.

Nesse cenário, fornecedores que adotam uma postura de responsabilidade social e ambiental estão encontrando cada vez mais espaço no mercado. Os conceitos relacionados às práticas sustentáveis têm sido mais difundidos. “A norma de desempenho também está levando empresas para esse caminho. Entretanto, no Brasil, a informalidade da cadeia da construção ainda é elevada, e uma empresa que não está nem legalmente registrada tem pouca chance de seguir critérios de responsabilidade social e ambiental”, explica Oliveira.

MAQUIAGEM VERDE

Saiba como algumas empresas tentam “aproveitar a onda verde”
1- Disfarçar aspectos negativos do produto e destacar os positivos
2- Fornecer informações genéricas e imprecisas, que geram dúvida quanto ao real benefício ambiental do produto durante todo o seu ciclo de vida, sem provas que sustentem suas afirmações e que possam ser verificadas
3- Declarar conquistas ambientais ou meias verdades, apresentando uma vantagem irrelevante para um produto com desempenho ou ecoeficiência baixa

Baixe aqui um mapa comparativo de propostas para facilitar seu processo de cotação.

CRITÉRIOS PARA AVALIAR OS FORNECEDORES

A orientação do Conselho Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS) é que sejam avaliados alguns aspectos principais como formalidade, legalidade e qualidade. “Ao garantir esses três aspectos, é possível dar início a um caminho que possibilita a identificação de empresas mais sustentáveis e responsáveis social e ambientalmente. O CBCS publica em seu site os seis critérios para a responsabilidade social e ambiental na seleção de fornecedores, com o objetivo de auxiliar projetistas, empreendedores e usuários na identificação de empresas que possuem uma política de responsabilidade social e ambiental”, afirma Vanessa.

1-Formalidade

O primeiro passo é a verificação da formalidade da empresa fabricante e fornecedora. “Por meio do CNPJ, é necessário conferir junto à Receita Federal a existência legal e o recolhimento dos impostos. Se o CNPJ estiver ativo e válido, é necessária a checagem da licença ambiental. Ela é concedida pelos órgãos ambientais estaduais. Alguns órgãos da federação possibilitam a consulta através do nome completo da empresa e da unidade da federação, enquanto outros exigem o fornecimento do número do processo de licenciamento. Caso o órgão da federação só permita a consulta da licença ambiental através do número do processo, torna-se necessário pedir ao fabricante uma cópia da licença ou número do protocolo para confirmar a validade”.

2-Origem e distância

Outro aspecto que deve ser observado, segundo a coordenadora, é o local de origem do produto e a distância de transporte. “O transporte determina o consumo de combustíveis fósseis. Selecionando empresas com processo produtivo próximo ao local de aplicação, o contratante ajuda a diminuir o impacto ambiental que o transporte gera ao emitir gases do efeito estufa”, diz Oliveira.

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3-Social

O terceiro critério que deve ser analisado antes de contratar um fornecedor é a questão social. “Esse passo busca identificar se o fornecedor já foi autuado por alguma questão social como trabalho infantil, trabalho escravo, trabalho em condições precárias de higiene, com jornadas excessivas e sem a alimentação adequada. No site do CBCS está disponível uma lista com as empresas já autuadas por exploração de mão de obra infantil e, outra, de empregadores que mantiveram ou mantêm condições de trabalho inadequadas”, diz a engenheira.

4-Normas técnicas

Na sequência, Vanessa recomenda checar a qualidade e normas técnicas do produto. “Normas técnicas estabelecem critérios mínimos de qualidade, e seu respeito é obrigatório no Brasil. Desta forma, pode-se verificar se o fornecedor está na lista de empresas qualificadas pelo Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat (PBQP-H), do governo federal, que acompanha a qualidade de um grande número de setores e possui a relação dos fabricantes que produzem em conformidade e não conformidade às normas técnicas da ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. Desta forma, é possível combater o desperdício, evitando comprar produtos com desempenho inadequado que acabam sendo substituídos, gerando custos e resíduos. Caso o setor não conste no PBQP-H, as recomendações das entidades setoriais sobre o padrão de qualidade do produto devem ser consultadas”.

5-Responsabilidade Social Empresarial

O próximo passo é consultar o perfil de responsabilidade socioambiental da empresa. “A Responsabilidade Social Empresarial (RSE) está além do que a organização deve fazer por obrigação legal. É a tradução e incorporação dos valores e compromissos das empresas em todas as suas formas de relações de negócios”, explica Vanessa.

De acordo com a engenheira, a RSE pode promover negócios sustentáveis que, por sua vez, são conscientes dos impactos positivos e negativos no campo econômico, social e ambiental. Sejam eles gerados pelo negócio ou pela sociedade, procurando gerenciar os riscos, as potencialidades ou oportunidades que estão presentes na empresa e na sociedade. “A sustentabilidade não está só na empresa ou na sociedade, com os patrões ou com empregados, com as pessoas ou com o meio ambiente, mas sim, nas relações que se estabelecem em todos os níveis e em toda cadeia do negócio”, explica Oliveira.

Portanto, a melhor forma de avaliar a RSE de fornecedores é através do relacionamento e de toda forma de realizar negócio. “É preciso assumir uma corresponsabilidade dos insumos e serviços adquiridos, assim como tornar sua própria prática transparente para a sociedade. Para verificar a RSE de uma empresa, é necessário dividir o tema em quatro questões: Funcionários e Fornecedores, Meio Ambiente, Comunidade e Sociedade, e Transparência e Governança”, afirma a coordenadora.


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COLABOROU PARA ESTA MATÉRIA

Vanessa H. Oliveira – mestrado pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) na área de materiais de construção, formada em Engenharia de Produção Civil pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná.

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