A indústria brasileira de pré-fabricados de concreto compra a maior parte de seus insumos no mercado interno. De acordo com a engenheira Íria Lícia Oliva Doniak, presidente-executiva da ABCIC – Associação Brasileira da Construção Industrializada do Concreto -, do total de aço utilizado, em 2013, para produção das estruturas pré-fabricadas de concreto, somente 24,4% foram importados.
O dado consta na Sondagem de Expectativas da Indústria de Pré-fabricados de Concreto, encomendada pela associação, realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e editada no Anuário ABCIC 2014. “O tipo de aço mais importado são as cordoalhas, utilizadas no concreto protendido, seguido pelo vergalhão”, diz.
A qualidade das matérias-primas está ligada ao desempenho não somente estrutural dos produtos, mas de estética, produtividade e custos de produção” Íria Doniak
O volume de aço trazido do exterior, em 2013, estava distribuído da seguinte forma: 40,9% cordoalhas, 36,4% vergalhão e 22,7% fios. Em relação a 2012, houve um aumento na participação do vergalhão, que passou de 32% para 36,4% e redução dos fios, que caíram de 22,7% para 17%.
“O que reflete a utilização de peças para vãos maiores, fato que pode ser constatado também pelo ranking das obras que consta do anuário, indicando um crescimento da adoção do sistema nas obras de infraestrutura, que assumiram a 3ª posição”, explica Iria Doniak. As indústrias do setor que registram grande volume de produção optam por contrato de exclusividade com fornecedores de agregados naturais.
“Mas, não é o habitual”, diz a engenheira, acrescentando que a compra do aço é, muitas vezes, compartilhada com o cliente para evitar dupla tributação. Independente do formato contratual de fornecimento, a compra bem feita das matérias-primas é determinante para a qualidade das peças pré-fabricadas. A presidente-executiva diz ainda que “a qualidade das matérias-primas está ligada ao desempenho não somente estrutural dos produtos, mas de estética, produtividade e custos de produção”.
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Controle de qualidade de pré-fabricados
O setor de pré-fabricados adquire suas matérias-primas seguindo as normas técnicas aplicáveis ao concreto, que prescrevem desde as características da água utilizada na preparação da mistura, até os aditivos e agregados empregados no processo.
“As normas apontam como devem ser os agregados miúdos (areia) e também os graúdos (brita), e abordam a qualidade de materiais para concretos especiais, como o metacaulim, a sílica ativa e as fibras. Há também normas específicas para concretos leves, como a vermiculita e a argila expandida, agregados especiais que reduzem o peso específico”, detalha Íria, destacando que as normas aplicáveis a cada material estão referenciadas na ABNT NBR 12655 – Concreto: Preparo, Controle e Recebimento.
Ainda na fase anterior ao início do fornecimento, os materiais componentes do concreto passam por qualificação pelas indústrias de pré-fabricados. Se aprovados, é iniciada a compra, através da análise de desempenho para avaliar se as características que os habilitaram se mantêm constantes ao longo de todo o fornecimento.
“No período de qualificação, além dos ensaios, é importante que se realize em laboratório a dosagem experimental do concreto”, fala a engenheira.
As normas apontam como devem ser os agregados miúdos (areia) e também os graúdos (brita), e abordam a qualidade de materiais para concretos especiais, como o metacaulim, a sílica ativa e as fibras” Íria Doniak
Esse ensaio acontece a partir das características dos materiais qualificados, quando é estabelecida uma dosagem, comumente chamada traço, com base no desempenho esperado do material e no abatimento, que pode ser desde zero para um concreto seco, até 22 cm para concretos fluídos, ou ensaios específicos para os concretos autoadensáveis.
Além do abatimento que mede a trabalhabilidade do concreto, a resistência característica à compressão (fck) e o módulo de elasticidade com parâmetros especificados em projeto.
“Especialmente os dois últimos são fundamentais. É o que diferencia a dosagem dos concretos convencionais para os utilizados em estruturas pré-fabricadas”, indica. O concreto adotado na indústria deve levar em consideração a resistência de desforma e manuseio, por exemplo, que ocorre em baixas idades iniciais para que haja bom aproveitamento das fôrmas e equipamentos.
“A dosagem é feita em função da qualidade dos materiais, basicamente cimento e agregados. O ideal é uma areia média, pois quanto mais fina, maior será o consumo de água deste concreto, com isso, maior consumo de cimento para a resistência desejada”, diz Íria.
Após obter a dosagem adequada, é recomendável que seja realizada uma produção piloto para analisar não somente a qualidade, mas também a produtividade. “Na indústria trabalhamos com máquinas e equipamentos que podem ser moldadoras e extrusoras. Por exemplo, uma areia que atende as condições técnicas, porém muito grossa, pode apresentar elevado índice de abrasividade e culminar no desgaste dos equipamentos”, exemplifica.
Em determinadas regiões, onde não há material ideal disponível, é comum optar pela composição de agregados com diferentes granulometrias. Nesses casos, outros ensaios previstos em norma são fundamentais, como matéria orgânica, índice de lamelas para as britas e material pulverulento para as areias.
Quanto ao cimento, aço e aditivos, as indústrias retiram uma amostra durante o recebimento, conferem a especificação e geram uma identificação para rastrear a amostra caso seja detectado algum problema durante a produção. “São materiais certificados ISO 9001 e não há necessidade de se realizar ensaios constantes, uma vez que as próprias indústrias já o fazem”, finaliza Iria.
Redação AECweb / Construmarket
Colaborou para esta matéria
Íria Lícia Oliva Doniak – engenheira civil graduada pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR). Desde 1986 atua no setor de concreto, tendo iniciado suas atividades profissionais no Laboratório de Controle Tecnológico. Atualmente, ocupa o cargo de presidente-executiva da Associação Brasileira da Construção Industrializada de Concreto (ABCIC).