Ao fazer a compra de projetos de um escritório de arquitetura, as construtoras optam, na maioria das vezes, por empresas com as quais mantêm uma relação de confiabilidade técnica.
“Assim, não é necessário fazer uma avaliação da capacidade do escritório e dos profissionais”, comenta João Alberto Viol, vice-presidente do Sinaenco – Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva.
Segundo ele, é fundamental que a construtora confie na qualidade do trabalho que irá receber, no cumprimento dos prazos e nos valores justos que está se pagando.
“Um projeto não é um produto que se compra acabado. É um trabalho que ainda será executado. Então, é imprescindível confiar no conhecimento técnico dos profissionais que o estão desenvolvendo, saber como eles atuam e qual a qualidade dos produtos que oferecem”.
As construtoras normalmente cotam com três ou quatro empresas parceiras, já conhecidas, e passam o termo de referência com os elementos básicos do projeto – terreno, estrutura etc. –, para que os escritórios apresentem uma proposta técnica e financeira de execução.
“Isso é fundamental na compra de projetos. É preciso determinar o que se quer. Após passar as informações, a construtora recebe a proposta daquilo que vai ser feito para avaliação, ajustes e acompanhamento do trabalho”, comenta Viol.
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Os escritórios de arquitetura costumam apresentar um estudo preliminar com alternativas, discutindo cada caso e chegando à alternativa que o cliente deseja.
“Isso ainda antes do projeto. Após decidir qual a melhor solução, qual o projeto será executado, parte-se para o detalhamento de tudo o que será feito – hidráulica, estrutura e etc.”, explica o vice-presidente.É muito importante na compra de projetos o profissional ter conhecimento profundo do assunto.
“Não basta somente conhecer a obra. É preciso ler e interpretar um projeto, uma planta. Além de entender como funciona a atividade de elaboração. Existe um profissional específico que irá trabalhar naquele projeto pesquisando materiais, buscando soluções entre os produtos existentes no mercado, tecnologias e etc. Portanto, é importante que esse profissional esteja atualizado para desenvolver projetos. Em contrapartida, o contratante precisa saber como funciona um escritório de arquitetura, como são criados os projetos. É requisito de quem contrata”, afirma Viol.
Um projeto não é um produto que se compra acabado. É um trabalho que ainda será executado. Então, é imprescindível confiar no conhecimento técnico dos profissionais que o estão desenvolvendo, saber como eles atuam e qual a qualidade dos produtos que oferecem. ”
Quem contrata tem mais dificuldade de enxergar como cada solução será executada. De acordo com o vice-presidente, é comum ter dúvidas, por exemplo, de como ficará um determinado ambiente e a localização de pilares e vigas.
Outro ponto é entender como funcionam os programas arquitetônicos – como se pede um projeto, como é feita a criação e distribuição dos espaços em um empreendimento comercial, entre outros aspectos.
Existem dúvidas também em relação às inovações que o mercado apresenta. “Por exemplo, há dez anos não existiam tubulações para internet e, atualmente, se trabalha com wireless. Os prédios são cada vez mais inteligentes, com apartamentos dotados de dutos embutidos para sucção de poeira, destinada a uma área apropriada. As galerias para ar-condicionado e resíduos sólidos existentes nos apartamentos residenciais são muito diferentes do que eram há dez, 15 anos”, afirma Viol.
Assim, quem contrata muitas vezes tem dúvida do que o mercado dispõe naquele momento e cabe ao projetista apresentar e propor essas inovações. Do lado do contratante, cabe decidir o que escolher, se tem uma boa relação custo-benefício ou não, qual o custo, como é a instalação.
Projeto de Qualidade
Existem algumas regras básicas que podem ajudar o contratante a conseguir um projeto de qualidade, segundo o vice-presidente.
“A primeira é que um projeto é um produto intelectual e, portanto, não pode ser comprado unicamente pelo preço. Ao cotar com diversos escritórios, é preciso pesar o que cada um está oferecendo. O conteúdo da proposta deve ser avaliado versus o preço – relação técnica e custo –, onde a técnica sempre prevalece. Em projetos, o melhor produto não é o mais barato. Se a construtora optar pelo menor preço, ela estará comprando somente o melhor valor e não o melhor projeto”.
Outro ponto importante no momento da compra de projetos é a construtora saber o que quer. “Isso significa ter um profissional capacitado para fazer um termo de referência, ou seja, descrever o que ele vai precisar do projeto com clareza. É fundamental para que receba um projeto de qualidade”, reforça.
Dificuldades em compra de projetos
Um projeto é um produto intelectual e, portanto, não pode ser comprado unicamente pelo preço. Ao cotar com diversos escritórios, é preciso pesar o que cada um está oferecendo. O conteúdo da proposta deve ser avaliado versus o preço – relação técnica e custo –, onde a técnica sempre prevalece. Em projetos, o melhor produto não é o mais barato. Se a construtora optar pelo menor preço, ela estará comprando somente o melhor valor e não o melhor projeto. ”
Os principais problemas no momento da escolha do projeto vão ocorrer, normalmente, mais para frente. “Quando a construtora faz a compra de projetos, muitas vezes, não é possível enxergar se foi ou não uma boa escolha. O profissional conseguirá saber somente no decorrer da execução, quando é mais difícil a mudança de rumo, precisando até refazer o projeto. E, em alguns casos, chegando a ter que contratar um novo escritório para realizar esse trabalho”, diz Viol. E alerta:
“Essa correção de rumo deve ser muito cuidadosa e, de preferência, no decorrer da elaboração do projeto e não chegando ao estágio da obra – o que é comum em obras públicas. Há uma série de programas que não andam por falta de bons projetos, obras paralisadas, superfaturadas, isso porque os projetos foram mal comprados e executados”.
A melhor maneira de evitar problemas na execução é ter um bom profissional para acompanhar a elaboração do projeto. “Conhecer e analisar o projeto são fatores que ajudam a construtora a saber se aquele é bom ou não, se está sendo bem feito. Assim, o detalhamento é imprescindível para se detectar sua qualidade. E em caso de ajustes e alterações, elas deverão ser solicitadas ao projetista para que faça as mudanças necessárias antes da entrega definitiva do trabalho. O acompanhamento do projeto é fundamental para o seu sucesso. É preciso ter fases de análise e retrabalho até chegar ao resultado final”, afirma o vice-presidente.
E quando ocorre algum problema já na etapa de construção, é preciso entrar em contato com o projetista novamente e exigir uma solução para o que está ocorrendo.
“Se o projeto tem algum item especificado que não está adequado, cabe a ele fazer as correções necessárias, mesmo já tendo entregue o projeto ou sendo decorrência da própria obra. Da mesma forma que o projeto não previu tudo ou que determinado detalhe não estava descrito, existe um acompanhamento técnico da obra que precisa ser feito pelo projetista. Ele continua sendo o responsável por aquele projeto. Se o construtor alterar algo que estava especificado, comprometendo a execução, quem será responsabilizado é o profissional da obra e não o projetista. Agora, se acontecer o contrário, o construtor seguir todas as descrições e der algum problema, quem será responsabilizado é o projetista. Assim, é obrigação do projetista dar assistência à execução da obra e esclarecer todas as dúvidas. O acompanhamento é fundamental”, ressalta Viol.
Compra de projetos em obras Públicas
De acordo com o vice-presidente a iniciativa privada deve fazer um bom termo de referência e um contrato que prevê a execução – dentro das normas e padrões – e, eventualmente, um valor hora para gastos extras que surgirem.
Já na área pública é muito mais complicado. “A lei atual prevê técnica e preço, mas esse conceito se deteriorou ao longo do tempo. Tem muitos contratantes hoje escolhendo somente por preço. E o governo, em função das obras para a Copa do Mundo de 2014, editou um regime diferenciado de contratações, que seria uma segunda lei de contratações voltada para Copa do Mundo 2014, em que priorizou a contratação por preço, leilões etc. Embora a lei básica ainda em vigor proteja o projeto com relação à técnica e preço, a nova lei e mais a prática que se tenta fazer no país estão levando a contratações mais motivadas por preço do que por técnica. E isso está afetando diretamente a qualidade dos projetos públicos e o andamento das obras de infraestrutura do país”.
Redação AECweb / Construmarket
Colaborou para esta matéria
João Alberto Viol – Engenheiro Civil formado pela Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo em 1975.
Foi engenheiro e assistente de diretoria do Departamento de Água e Esgoto de São Bernardo do Campo (1977/1983), diretor técnico da Companhia de Construções Escolares do Estado de São Paulo S/A (1983), diretor técnico da Superintendência de Desenvolvimento do Litoral Paulista (1983/1987), diretor de obras e diretor executivo da Fundação para o Desenvolvimento da Educação (1987/1991), diretor de engenharia da SABESP (1991/1995), presidente nacional da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental – ABES (1992/ 1994) e presidente da Associação Paulista de Empresas de Consultoria e Serviços em Saneamento e Meio Ambiente – APECS (2005/2009).
Atualmente é diretor da JHE Consultores Associados, membro permanente do Conselho Diretor da ABES e vice-presidente Nacional do Sinaenco – Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva.