Compras locais exigem adaptação de construtoras

Homem em um loja de construções escolhendo o seu material.

Com frequência, as construtoras executam obras distantes de suas sedes e, para abastecê-las, tentam fazer compras locais.

“Aqui no Pará, essas empresas adquirem principalmente o material básico, como areia, blocos e tijolos ” , afirma Antonio Valério Couceiro, diretor de Indústria Imobiliária do SindusCon-PA e presidente da Coopercon-PA, cooperativa do setor.

O estado do Pará é um bom exemplo da forte presença das construtoras do Sudeste com atuação nacional, nos segmentos de obras imobiliárias, de infraestrutura e de hidrelétricas, sobretudo no período recente de expansão da construção civil.

São realizadas compras locais de insumos básicos em grandes volumes, enquanto produtos industrializados são fornecidos por fabricantes com operação nas regiões mais desenvolvidas do país.

Isto vale para as construtoras de fora e para as regionais. “A única indústria de que dispomos localmente é a cimenteira, inclusive de algumas das marcas mais conhecidas no país. Outro fornecedor está no Maranhão, estado ao lado”, lembra Couceiro.

Aqui no Pará, as construtoras adquirem principalmente o material básico, como areia, blocos e tijolos, além da contratação de mão de obra. ” Antonio Valério Couceiro

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Substituição de materiais

Particularidade da região, o Pará não dispõe de brita para a produção do concreto. A solução adotada, há mais de 40 anos, foi substituir o insumo pelo seixo, pedra abundante nos rios da Amazônia.

“Apenas 2 ou 3% do concreto usinado utilizam brita. As concreteiras daqui empregam o seixo, resultando num produto de idêntica qualidade”, informa o diretor.

As construtoras de fora adquirem blocos de concreto e acompanham a tendência local do amplo uso das telhas cerâmicas, itens produzidos no estado.

Já a madeira, também farta na região, está cada vez menos presente na construção civil. O escoramento, por exemplo, hoje é quase todo metálico.

Compras locais e sua mão de obra

A mão de obra local foi muito disputada durante o boom da construção civil. As construtoras de outros estados empregaram importante contingente de trabalhadores – qualificados ou não – do Pará, o que causou grandes problemas às empresas regionais.

“Foi um corre-corre atrás de pessoal e, muitas vezes, elas pagavam mais do que nós. Agora com a retração, esse mercado se normalizou”, diz Couceiro, acrescentando que, no setor de empreendimentos imobiliários, a região dispõe de boa mão de obra, que, naqueles anos, se somou a um pequeno número de equipes de fora.

Para a construção das hidrelétricas localizadas no interior do Pará, pode ser difícil a contratação de mão de obra, pois nem sempre há candidatos suficientes, o que acaba atraindo pessoas de toda a região norte do país.

“Essas obras são um ponto fora da curva. A cidade de Altamira, onde Belo Monte foi construída, não tinha condições de atender a necessidade dos canteiros que, no auge, chegaram a ter 30 mil trabalhadores”, conta.

O alumínio sai daqui bruto para a extrusão dos perfis. Além disso, não temos fabricante de vidros. Tudo vem de fora. ” Antonio Valério Couceiro

Por meio de empresas prestadoras de serviço especializado, a mão de obra do Pará dá conta da execução de impermeabilização, com produtos originários de fabricantes nacionais.

Por outro lado, apesar de o estado contar com companhias multinacionais de transformação do alumínio, as construtoras locais e as de São Paulo e do Rio de Janeiro acabam contratando fabricantes de esquadrias e de fachadas de alumínio de outras regiões para suas obras.

“O alumínio sai daqui bruto para a extrusão dos perfis. Além disso, não temos fabricante de vidros. Tudo vem de fora”, relata Couceiro.

Desafios no transporte em compras locais

A logística de transportes no estado é a parte mais complexa para as construtoras, especialmente para quem desconhece as suas dificuldades. Dependendo da localização, o transporte fluvial é a melhor, se não for a única opção.

A região oeste do Pará se utiliza bastante de rios, como Santarém, enquanto o sudeste e o nordeste do estado movimentam as entregas por meio de rodovias, o que resulta em uma logística melhor.

Já Macapá, capital do estado vizinho do Amapá, recebe tudo por rios e pelo oceano Atlântico. Muitos materiais chegam a Belém por rodovia e são transportados em balsas até lá.

“Temos deficiência de malha viária em decorrência das dimensões do estado e, também, da necessidade de licenças ambientais para a construção de estradas e de portos”, observa o diretor, para quem as construtoras paraenses são menos impactadas do que as de fora quando se trata de compras locais, pois precisam desenvolver estratégias logísticas próprias.

Nos últimos meses, as obras públicas de infraestrutura, em particular as que são financiadas pelo governo do estado, encontram-se paralisadas.

Em geral, essas obras contam com a participação de construtoras do Rio e de São Paulo, exceto quando se trata de empreendimentos do porte das hidrelétricas, tocados pelos consórcios de grandes empreiteiras.


Redação AECweb / Construmarket


Colaboração técnica

Antonio Valério Couceiro – presidente da Cooperativa da Construção Civil do Estado do Pará (Coorpercon-PA), diretor da Indústria Imobiliária do Sindicato da Construção do Pará (SindusCon-PA) e membro vitalício do conselho da Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário do Pará (Ademi-PA).

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