Compras nacionais ou importadas?

mini caixas de compras em cima de um notebook aberto
mini caixas de compras em cima de um notebook aberto

No mundo globalizado, a área de engenharia e construção civil das nações desenvolvidas e também do Brasil enfrenta o desafio das compras nacionais ou internacionais. Quando se trata de equipamentos, por exemplo, diversos países fornecem para a engenharia brasileira produtos de altíssima qualidade a preços menores.

“Por outro lado, vários segmentos produtivos nacionais são beneficiados por incentivos fiscais, para torná-los preferenciais. Assim, o primeiro desafio é saber se a compra será feita fora do Brasil, ou se a melhor opção é o produto nacional”, afirma o professor doutor Paulo Resende, coordenador do Núcleo de Infraestrutura, Supply Chain e Logística da Fundação Dom Cabral.

QUANDO IMPORTAR

As construtoras têm optado pelo produto nacional em algumas situações bem definidas. Por exemplo, quando se trata de um fornecimento que exigirá manutenção no futuro, ou diante da previsão de problemas na compra que resultem na devolução do material, ou, ainda, a necessidade de um pacote de relacionamento mais complexo e cotidiano.

Quando se trata das chamadas compras técnicas de grande complexidade, que dispensam um relacionamento por se tratar de um equipamento que se compra uma vez na vida ou para um projeto específico, a preferência tem sido dada ao importado Paulo Resende

“Mas quando se trata das chamadas compras técnicas de grande complexidade, que dispensam um relacionamento por se tratar de um equipamento que se compra uma vez na vida ou para um projeto específico, a preferência tem sido dada ao importado”, relata.

No caso de equipamentos, o professor se refere principalmente às necessidades das obras de infraestrutura pesada, como as turbinas de hidrelétricas. O desafio das construtoras de projetos imobiliários e mesmo de infraestrutura mais leve está na escolha do fornecedor que melhor responda às especificações técnicas e de relacionamento com o cliente. A aquisição de importados será feita necessariamente quando não houver fornecedor nacional, como alguns tipos de vidros técnicos.

“Esse será um desafio de logística internacional que se soma à burocracia brasileira, envolvendo liberação nos portos, Receita Federal e inspeções governamentais”, lembra Resende. Enquanto isso, a nacionalização de produtos está bastante incorporada pela indústria fornecedora brasileira, sem qualquer dificuldade à informação de tecnologias estrangeiras.

O FUTURO DA COMPRA

O professor chama a atenção para o conceito de Custo Total da Propriedade, que leva em conta muito além da transferência do produto adquirido, considerando também as consequências dessa compra. Para tornar claro, ele exemplifica com o consumidor que opta por um carro importado. No ato da compra, ele nem sempre pensa na manutenção futura do bem. E só vai descobrir o preço dessa propriedade quando, ao ter que trocar uma peça, constatar que ela não está disponível no mercado brasileiro, precisará ser importada e o carro ficará parado por muitos dias ou meses.

A indústria da engenharia e da construção civil precisa começar a adotar o conceito de Custo Total da Propriedade, pois, muitas vezes, se internaliza no Brasil determinado produto, para somente depois descobrir tudo o que está por trás daquela aquisição Paulo Resende

“A indústria da engenharia e da construção civil precisa começar a adotar o conceito de Custo Total da Propriedade, pois, muitas vezes, se internaliza no Brasil determinado produto, para somente depois descobrir tudo o que está por trás daquela aquisição”, diz. Ele recomenda pesquisar sobre as consequências que envolvem a compra, para a tomada de decisão. E, se a decisão for pelo importado, se preparar para os efeitos futuros. Ou, optar por fornecedor nacional.

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A INDÚSTRIA ENCOLHEU

Parte da indústria fornecedora da construção civil se desmobilizou com a crise econômica que evoluiu para uma recessão no Brasil, nos últimos anos. O professor afirma que, com a retomada do crescimento e o aumento significativo de demanda, nos próximos dois anos as importações devem crescer, principalmente pela construção civil pesada.

“Os segmentos produtivos mais afetados foram os de equipamentos ligados ao setor de transportes. A indústria de trilhos para ferrovias encolheu a ponto de as obras de manutenção e substituição de trechos ou novas obras ferroviárias terem que importar. A China, maior fornecedor, não permite testes, o que acaba sendo feito apenas depois do produto entregue, o que é um risco muito grande. O Brasil chegou a comprar trilhos chineses que, ao chegarem aqui não serviam para nada, foram descartados como sucata”, conta Resende. Há dificuldade, também, na compra de turbinas nacionais para hidrelétricas.

Para o professor, a situação ideal para a construção civil brasileira seria a presença de muitos fornecedores de produtos ‘comoditizados’, como tintas e materiais de acabamento, deixando para compras internacionais produtos de altíssima complexidade, já que a indústria nacional vai demorar um tempo para se tornar fornecedora. Ele observa que, mesmo o vidro – material amplamente utilizado nas edificações – não tem fornecedores suficientes no país para uma economia que está voltando a crescer. “Nós estamos importando vidro”, diz.

VALOR ESTRATÉGICO

Resende finaliza com uma crítica àquelas empresas do setor da construção civil que consideram a área de compras e suprimentos como uma função operacional, negando a ela seu valor estratégico.

“Temos empresas no país em que o custo total das compras chega a 70% do seu faturamento bruto. Imagine quanto a Petrobras e a Vale compram na área da construção civil e engenharia. Mas são empresas que, há muito, já alcançaram um status estratégico para sua área de compras. Isso tem que ser seguido pelas construtoras, que muitas vezes ainda entendem a boa compra como aquela que dá um grande desconto – porém, dará uma grande dor de cabeça amanhã. Há que se tomar cuidado com isso”, alerta.


Redação AECweb / Construmarket


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Colaboração técnica

Paulo Resende – Doutor em Planejamento de Transportes e Logística, pela University of Illinois at Urbana Champaign, USA (1995). Mestre em Planejamento e Engenharia de Transportes, pela Memphis State University, Tennessee, USA (1991). Especialista em Planejamento Urbano, pela University of Illinois at Urbana Champaign, USA (1994). Especialista em Estatística, pela University of Illinois at Urbana Champaign, USA (1993).

Professor e pesquisador da Fundação Dom Cabral nas áreas de Logística, Cadeia de valor, Supply Chain e Planejamento de transporte. Atuou como Diretor Executivo de Programas Abertos e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral. Editor-chefe da Revista DOM, da Fundação Dom Cabral.

Coordenador do Núcleo FDC de Infraestrutura, Supply Chain e Logística. Professor em Cursos in company em diversas empresas de grande porte. Membro do Supply Chain Council – USA. Capacity Committee MemberTransportation Research Board – USA, desde 1992. Autor de livros e artigos nas áreas de logística, transporte, cadeia de valor, supply chain management, vendas e canais de distribuição.

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