O engenheiro de campo está inserido na cadeia de suprimentos uma vez que alimenta a área com informações para o perfeito alinhamento dos cronogramas de compras e de obras. Cabe a ele, também, controlar a produção e a qualidade da execução.
“Enquanto numa fábrica, independentemente do seu ramo de atividade, esse enorme volume de responsabilidades cabe a departamentos inteiros, na estrutura da construção civil cabe ao engenheiro”, compara o professor Celso Luchezzi, diretor na Luchezzi e Treinamentos e Consultoria em Logística e SCM.
Na opinião dele, falta à maioria dos canteiros, mesmo das construtoras de maior porte, o profissional de logística também dedicado à análise de materiais e total integração com a área de suprimentos.
“Menos de 10% dos 100 engenheiros que estou formando na universidade ouviram falar em logística, até porque a maioria dos cursos de engenharia não tem a disciplina de Logística e Supply Chain Management (SCM) em sua grade curricular”, conta.
O professor defende que a produção de um edifício precisa ter, no canteiro, dois engenheiros: um para a análise de materiais e, outro, responsável pela produção e qualidade.
É fundamental, também, que as aquisições de materiais e serviços sejam centralizadas pelo setor de compras e suprimentos, para todas as obras da construtora.
“A área de compras e suprimentos vai pesquisar fornecedores, negociar e, quando necessário, desenvolver novos parceiros. Uma vez negociado o volume, o comprador não precisa mais discutir preço”, ensina.
O que tenho visto e acompanhado é que o comprador fica restrito a meras cotações, quando sua função é maior, é a de ser um negociador. ” Celso Luchezzi
O processo de compras centralizado, visando o trabalho dentro de uma cadeia de abastecimento, passa por três etapas, sendo que a primeira delas é a geração do pedido. Em seguida vem o procedimento padrão da área de fazer três cotações. Por fim, vem o recebimento do material no canteiro.
“O que tenho visto e acompanhado é que o comprador fica restrito a meras cotações, quando sua função é maior, é a de ser um negociador. Proponho que o comprador negocie para todas as obras volumes maiores e que o engenheiro de campo solicite diretamente com o fornecedor”, ressalta.
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De olho nos cronogramas de compras
Garantido o fornecimento, a obra ganha em velocidade. Nesse cenário, os cronogramas de compras é, em geral, acompanhado pelo engenheiro de campo.
“A construtora faria um trabalho ainda melhor se tivesse no canteiro um engenheiro cuidando da análise de materiais e logística”, afirma.
Este profissional seria o responsável pelo cronograma de entregas, escalonando e evitando estoques. Dessa forma, o engenheiro residente ficaria liberado para cuidar da produção e da qualidade da construção.
“Qual o custo de ter esse profissional com função complementar, no canteiro, fazendo a interface diária do cronograma da obra com o de compras?”, indaga o professor.
Qual o custo de ter esse profissional com função complementar, no canteiro, fazendo a interface diária do cronograma da obra com o de compras? ” Celso Luchezzi
Até porque o cronograma da obra pode sofrer imprevistos e o engenheiro vai informar a área de compras. Caso contrário, o material chegará na data prevista e o pessoal do canteiro terá que movimentá-lo enquanto aguarda pelo uso.
“Pode ser que não seja preciso movimentar, apenas armazenar. Mas, caso tenham que transferir os produtos de local, é possível que alguma coisa quebre, resultando em prejuízo”, alerta Luchezzi.
Quando não alinhados os cronogramas de compras, obras e entregas, geram dois riscos e igualmente graves: faltar ou sobrar material.
“Se faltar, é porque não teve análise suficiente para evitar que ocorresse. E o engenheiro de campo, tendo que escolher entre cuidar de uma fissura na estrutura da obra ou fazer a análise de materiais, evidentemente que decide por empregar seu tempo e conhecimento na atenção à qualidade da execução”, diz.
Dependendo dos tipos de materiais em excesso, especialmente insumos como cimento, areia e pedra, a construtora utilizará em outra obra.
Já os itens de acabamento – revestimento cerâmico, louça e metais sanitários, entre outros – foram especificados pelo arquiteto e não necessariamente poderão ser usados em outro projeto, representando prejuízo.
Redação AECweb / Construmarket
Colaboração técnica
Celso Luchezzi – Mestre em Engenharia de Materiais (Mackenzie), tem MBA em Logística Empresarial (FGV) e é tecnólogo em Processos de Produção (FATEC) e matemático. Atua como diretor na Luchezzi e Treinamentos e Consultoria em Logística e SCM e como consultor internacional.
Escreve sobre Logística Reversa na Construção Civil. Professor universitário de instituições como Mackenzie, Fatec, Anhembi-Morumbi, INPG e BI International para cursos de graduação, pós-graduação e MBA.
Professor convidado do CIESP, Setrans e SindusCon-SP e Aslog. Possui experiência em planejamento e controle de estoques; redução de estoques e de custos produtivos; logística, SCM e PCP; melhoria de processos; armazenamento de materiais e dimensionamento da capacidade produtiva e 5S em empresas de diversos segmentos e também na construção civil.