Fluxo de materiais na construção civil pede organização

trabalhadores no canteiro de obra
trabalhadores no canteiro de obra

A problemática do gerenciamento de Compras e Suprimentos é tradicionalmente tratada a partir do canteiro de obras como elemento central, onde se buscam soluções para minimizar perdas, deixando de fora o relacionamento com o cliente, fornecedores, atribuição de responsabilidades e capacidade da empresa em gerir e custear a obra.

“Nesse contexto, perde-se a dimensão dos critérios competitivos como qualidade, custos, gestão da rede de suprimentos, flexibilidade e prazo de entrega”, diz Fábio Müller Guerrini, engenheiro e professor da USP–São Carlos. 

Já o processo de execução de obras conta com a logística interna para organização dos fluxos de materiais e serviços no canteiro, bem como, a saída do material do fornecedor e a entrega do material na obra.

Como controlar material na obra?

“O conceito de gestão de materiais integra todos os componentes por meio de três elementos fundamentais que estão inseridos entre o lado do fornecimento e o lado da demanda: gestão de estoques, fluxo de informações e de materiais e serviços”, diz Guerrini.

O professor também explica que um sistema de Planejamento e Controle da Produção tradicional é definido quando a produção é regulada por meio do ponto de re-encomenda de materiais, que determina o nível mínimo de estoque de matérias-primas ou componentes que devem ser repostos.

“O conceito de Sistema de Administração de Produção é uma evolução do sistema de Planejamento e Controle da Produção tradicional, pois insere a estratégia através dos critérios competitivos para melhorar os processos de manufatura”, explica.

A gestão da cadeia de suprimentos pode ser tratada como critério competitivo de um Sistema de Administração de Produção para empresas de construção civil, pois a partir da lógica da estrutura do produto, o andamento da obra referente ao fluxo de materiais e serviços e a gestão de estoques podem ser determinados pela entrada de materiais durante a execução.

“Por esta razão o conceito de MRP – Planejamento de Necessidades de Materiais (Manufacturing Resourse Planning) é o que se adéqua a qualquer obra, pois a probabilidade de faltar material na obra diminui muito, uma vez que todos já sabem, com antecedência, quando deverão receber o material”, explica Guerrini.

Garantia de Confiabilidade

Em estudo que realizou, Guerrini analisou sete obras de uma mesma construtora. “Levantamos quantos fornecedores estavam presentes na primeira obra e quantos restaram na última. Dos 40 fornecedores presentes na primeira, somente sete estavam na última.

Parte dessa baixa se deve às empresas fornecedoras de materiais que não conseguem sobreviver, duram em média cinco anos”, explica. Ele diz também que as construtoras que trabalham com certificação de projetos possuem uma variação menor de fornecedores, uma vez que os qualificam para atender as demandas.

Fluxo de materiais pede organização

Em 2005, houve uma iniciativa das dez maiores construtoras do estado de São Paulo em desenvolver um sistema de informação para solidificação de compras, de forma padronizada, e também receber as cotações por meio desse sistema por parte dos fornecedores.

“Foi feito um modelo do processo e os materiais receberam a classificação A B e C. Os itens do tipo A foram deixados de fora, pois isso poderia gerar certo desbalanceamento do mercado, uma vez que algumas construtoras têm um volume muito grande de compras”, explica Guerrini.

Na época, foi criado um comitê para desenvolver esse sistema em conjunto e, posteriormente, a cada ano as construtoras se revezariam na presidência desse controle.

“Todos atribuiriam nota a esses fornecedores, mas eles não poderiam ver as propostas enviadas aos fornecedores por outras empresas e vice-versa, ou seja, só poderiam ver as suas propostas”, relata. Mas o projeto não vingou. “Realizaram aproximadamente dez reuniões, mas a falta de confiança mutua entre as construtoras fez com que o projeto não saísse do papel.

Acredito que teria sido uma maneira de ter uma melhor qualificação dos fornecedores, tanto de materiais, quanto de serviços”, afirma Guerrini.

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Comunicação entre fornecedores e construtores

O engenheiro também alerta que não existe uma plataforma de comunicação entre fornecedores e construtores. “Na Europa, há um sistema que possibilita a troca de serviços na construção civil entre os países da União Europeia.

Lá isso foi implementado de fato e eles possuem hoje uma plataforma de comunicação, que melhora a competitividade das empresas e proporciona acesso aos pequenos fornecedores, que não têm escalas, a serem fornecedores de grandes construtoras, pois ajuda na troca de serviços para ter acesso a grandes obras”, revela Guerrini. Ele é enfático ao dizer que as associações de classe, como o Secovi, podem ajudar, mas antes é preciso que haja mudança nas próprias construtoras.

Redação AECweb


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Colaborou para essa matéria:

FÁBIO MÜLLER GUERRINI possui graduação em Engenharia Civil pela Universidade de São Paulo, mestrado em Engenharia de Produção pela Universidade de São Paulo, doutorado em Engenharia Mecânica pela Universidade de São Paulo e livre-docência em Engenharia de Produção pela Universidade de São Paulo.

Atualmente é professor associado da Universidade de São Paulo. Tem experiência na área de Engenharia de Produção, com ênfase em planejamento e controle de produção e redes de cooperação entre empresas, atuando principalmente nos seguintes temas: redes de cooperação entre empresas, sistemas de planejamento e controle de produção e gerenciamento na construção civil.

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