Impactos da crise no mercado fornecedor

Entenda como a crise pode impactar no setor de distribuição.
Homem com a mão em sua cabeça, mostrando tristeza, dentro de um galpão de materiais.

Nos últimos três anos, as vendas de materiais de construção acumularam queda de 33%, impactos da paralização das obras de infraestrutura em todo o país e da retração do setor imobiliário.

“Voltamos aos níveis do início de 2008”, aponta Walter Cover, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat).

As construtoras e o comércio, que chegaram a dividir em pé de igualdade o consumo, agora respondem, respectivamente, por 45% e 55%.

Em meio à crise, que ele avalia como a mais profunda já vivida pela indústria, as relações entre fornecedores e construtoras estão preservadas, porém incorporam novas características. Para explicar, Cover considera importante detalhar o cenário atual.

“Apesar da melhoria das expectativas futuras na economia por parte de empresários e das famílias, as vendas de materiais continuam em queda. Em janeiro passado, foi de 10%, quando esperávamos que ficasse em 5%, na comparação com igual mês de 2016”, relata.

Os motivos dos impactos no mercado imobiliário são conhecidos: o desemprego, já elevado, deverá aumentar até julho próximo, podendo atingir 13,5% da população. Depois disso se estabiliza e, a partir do final do ano, se inicia a reversão, porém lenta.

Apesar da melhoria das expectativas futuras na economia por parte de empresários e das famílias, as vendas de materiais continuam em queda. ” Walter Cover

“Estabilizando no segundo semestre, devolverá ao mercado imobiliário muita gente que teme perder o emprego – causa complementar da retração do mercado”, diz.

Nas empresas vinculadas à Abramat já houve corte de pessoal, segundo ele. Algumas, inclusive, enxugaram demais e estão recompondo, fazendo novas contratações em março.

O fato ocorre principalmente no segmento de materiais de acabamento que, junto com produtos de base, compõem o setor. A Abramat identificou que o adiamento da compra de imóveis e da construção de novos empreendimentos, inclusive comerciais, como shopping centers, impulsionou as reformas.

Foi o que assegurou um desempenho um pouco melhor nas vendas de itens de acabamento que, em 2016, caíram 9%, enquanto que as dos materiais de base despencaram 12%.

“As obras de infraestrutura foram duramente atingidas pela falta de recursos das três esferas de governo e em decorrência da questão política-policial em curso, que está segurando as grandes empreiteiras”, ressalta.

Este ano, o varejo poderá ter um crescimento positivo de 2 a 3%, mas as vendas para as construtoras cairão ainda cerca de 4% – uma queda bem menor que os 14% de 2016.

Baixe aqui um mapa comparativo de propostas para facilitar seu processo de cotação.

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Impactos em compradores e fornecedores

Em tempos de crise, houve uma mudança no perfil de materiais comprados pelas construtoras para novas obras e consumidores que investem em reformas de seus imóveis, com ênfase em produtos mais econômicos. “Isto não significa materiais de menor qualidade, porém menos sofisticados”, afirma Cover.

“Até porque, todos os fabricantes associados à Abramat participam dos Programas Setoriais da Qualidade, vinculados ao PBQP-H (Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat) do Ministério das Cidades.

Não tem como baixar a qualidade dos produtos, ação que corresponde a penalizações”, complementa.

Apesar de considerar que o preço dos materiais voltou a ser prioritário para as construtoras, Walter Cover entende que as aquisições feitas pelo setor de compras e suprimentos estão se pautando pelo melhor custo-benefício.

“O raciocínio dos compradores é que podem perder um pouco em sofisticação e ganhar muito em preço. Porque eles têm claro que, se optarem por uma torneira problemática, por exemplo, no futuro a construtora terá de arcar com os custos da substituição e ficará mais caro”, diz.

O raciocínio dos compradores é que podem perder um pouco em sofisticação e ganhar muito em preço. ” Walter Cover

Por outro lado, com a economia em recessão, os fabricantes não estão mais conseguindo ditar preços e prazos de entrega.

A tendência é se ter um equilíbrio no poder de barganha. “Pode ocorrer de, num primeiro momento, o comprador ‘apertar’ o fornecedor para que baixe o preço, sob a hipótese de comprar de outro. Mas isso tem um limite, pois não faz sentido um tirar vantagem em impactos de crise, porque aí todos perdem”, sublinha.

Tanto na indústria quanto no comércio, o custo financeiro não permite a estocagem de materiais. “É quase que ‘da mão para a boca’”, diz. No momento em que a indústria aumenta o preço de um produto, incorporando reajuste de seus custos como de mão de obra e matéria-prima, há impactos reduzindo as vendas.

Cover acredita que essa foi, provavelmente, a razão da forte queda nas vendas do setor de materiais registrada em janeiro último. “Mas, no mês seguinte, o mercado absorve o ajuste”, afirma.

A crise econômica trouxe outro tipo de impacto nas relações entre construtoras e fornecedores: a precaução. De um lado e de outro, empresas se viram enredadas em dívidas ou problemas de liquidez.

“Quem vende e quem compra precisa tomar mais cuidado. O que aumenta é a precaução de todos os agentes – indústrias, construtoras e comércio – que, evidentemente, estão se municiando de mais informações para levar à frente os processos de negociação. A simbiose tem de se manter; caso contrário, não tem produto, não tem venda, não tem obra”, alerta, concluindo que a crise não abalou a relação entre os atores da cadeia de suprimentos.

Leia também:
Compradores e fornecedores devem gerenciar os custos 


Redação AECweb / Construmarket


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Colaboração técnica

Walter Cover – É PhD em Economia Agrícola pela Michigan State University (Estados Unidos) e mestre em Economia Agrícola pela University of California (Estados Unidos).

Cursou Gestão Empresarial Avançada no INSEAD (França) e tem formação em Engenharia Agronômica pela Universidade Estadual Paulista (Unesp). Foi CEO, diretor e conselheiro em empresas de grande e médio porte como Vale, Bunge, Lilly/Elanco, Teba Têxtil e CTM Citrus.

Foi membro da Casa Civil da Presidência da República, onde coordenou uma estrutura multiministerial que apoiou a viabilização de projetos de investimentos privados e foi representante titular na comissão interministerial de parcerias público-privadas (PPP).

Como superintendente Geral da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), conduziu um extenso programa de reestruturação e modernização da gestão. Desde outubro de 2011, ocupa o cargo de presidente da Associação Brasileira da Indústria dos Materiais de Construção (Abramat).

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