Indicadores de compras orientam gestão

Dois engenheiros olhando um projeto com uma trena na mão virados para o canteiro de obras
Dois engenheiros olhando um projeto com uma trena na mão virados para o canteiro de obras

Redação AECweb / Construmarket


O setor de compras nas empresas de construção civil deve ser considerado como uma extensão do setor técnico. “Para alcançar o desempenho desejado, é necessário que as negociações tenham, além do foco comercial, a visão técnica, considerando não apenas detalhes relacionados às especificações, como também os reflexos do desempenho dos produtos, sejam materiais, equipamentos ou serviços na obra”, afirma Rosana Leal, engenheira civil e consultora.

Na aquisição de um revestimento cerâmico, por exemplo, as considerações vão além de custo, preço e prazo. Abrangem as condições de entrega, forma, dimensões e peso dos volumes, condições de movimentação, equipamentos necessários e condições de armazenamento. Muitas vezes, por não terem sido consideradas particularidades técnicas, os ganhos adquiridos na negociação comercial são perdidos nas dificuldades com as condições de movimentação e armazenamento. “Considerando que o sucesso do setor de compras está associado a atender as solicitações de abastecimento no menor prazo, com o melhor preço e condições adequadas, os indicadores para avaliar o desempenho desse setor devem ser capazes de medir elementos fundamentais”, ensina.

A engenheira elenca critérios essenciais – a começar pelo prazo médio de atendimento de solicitações que mede a velocidade de atendimento; a pontualidade na entrega, que baliza a capacidade de atendimento do fornecedor; o número de solicitações atendidas parcialmente ou pendentes, que avalia falhas no processo de atendimento; número de devoluções de materiais, que identifica problemas no recebimento dos materiais e problemas relacionados a solicitações equivocadas.

É imprescindível que as construtoras façam, na área de compras e suprimentos, o diagnóstico do setor e utilizem os indicadores gerenciais. “Sempre foi essencial. Mas em momentos em que o mercado está mais sensível, identificar falhas e possibilidades de melhorias na área de suprimentos pode ser determinante para a redução de despesas. Conhecer as situações que estão exigindo maior energia dos profissionais de suprimentos pode alertar para fragilidades nos processos internos da empresa, como também para dificuldades com os fornecedores. Identificar que determinado fornecedor não está conseguindo honrar as entregas programadas, em relação a quantidade e prazos, pode ser um alerta para a incapacidade de atendimento, exigindo a busca por novos parceiros”, comenta Leal.

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VANTAGENS

De acordo com a engenheira, as principais vantagens da utilização do diagnóstico do setor de compras e indicadores gerenciais é ter a clareza nas definições de ações para corrigir o processo de suprimentos. “Outro benefício que pode ser adquirido a partir dessa prática é a definição de remuneração diferenciada, com bônus e premiações a partir do cumprimento de metas pré-estabelecidas”.

Cabe ao setor de compras abastecer as informações que garantirão a aplicação dos indicadores. “A determinação dos indicadores é responsabilidade gerencial e não operacional. É necessário que os gestores determinem quais os objetivos e metas. E, a partir dessas diretrizes, deverão ser estabelecidos os indicadores, que podem ser quantitativos ou qualitativos. Avaliar resultados e definir ações corretivas são funções dos gestores. São eles que têm o poder de decisão”, diz a consultora.

A avaliação do desempenho do setor tem o poder de espelhar como as relações com os fornecedores são estabelecidas. Negociações com benefícios unilaterais poderão levar ao comprometimento da saúde financeira do fornecedor. Por outro lado, a exclusividade de fornecimento poderá ser responsável por despesas elevadas, devido à ausência de concorrência, como também uma vulnerabilidade em relação ao fornecimento de materiais. Uma vez que aquele fornecedor único faltar, a escassez não será suprida. “Depurar essas informações poderá influenciar em decisões de projetos e alterações de tecnologia. Pontos positivos e negativos precisam ser considerados para que as decisões técnicas sejam lastreadas, evitando surpresas fruto de desconhecimento”, alerta Leal.

Segundo ela, o diagnóstico e os indicadores devem estar associados a objetivos e metas. Dessa forma, poderão definir ações para melhorar o desempenho. A engenheira exemplifica: “o objetivo da empresa é trabalhar com fornecedores confiáveis. A meta associada pode ser garantir que 80% dos fornecedores não apresentem problemas relacionados a prazo, quantidades e valores até março de 2016. O indicador seria fornecedores que apresentam divergências relacionadas a prazo, quantidades e valores. Mensalmente, devem ser avaliadas as entregas realizadas e os problemas identificados. Quando os problemas forem sendo reconhecidos, o fornecedor deverá ser informado e devem ser discutidas as ocorrências e necessidade de implantação de melhorias. O aprimoramento do desempenho do setor refletirá na empresa como um todo, na velocidade de respostas, na eficiência do setor, no dimensionamento da mão de obra e na otimização de horas trabalhadas”.

VISÃO ESTRATÉGICA

Possuir uma visão estratégica alinhada às diretrizes da empresa é fundamental para o sucesso da área de compras em construtoras. “Poderíamos associar a imagem de um barco com diversos remadores. Se todos não remarem com o mesmo objetivo e direcionamento, o barco não sairá do lugar ou poderá afundar. Se a construtora tem como visão a sua manutenção no mercado, a partir de execução de produto de boa qualidade, cumprindo os prazos, com preços competitivos, respeitando a vida humana e o meio ambiente, seria incoerente adquirir produtos de fornecedores que não estejam atuando de forma legal. Ou que não sejam confiáveis, mesmo que isso tenha um ganho financeiro”, afirma a engenheira.

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COLABOROU PARA ESTA MATÉRIA

Rosana Leal – Profissional graduada em Engenharia Civil pela UFBA (1988), mestre em Análise Regional pela UNIFACS – Universidade Salvador, especialista em Administração pela UNIFACS – Universidade Salvador, especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho, com curso de extensão em Administração Empresarial pelo CETEAD/UFBA, Desenvolvimento Gerencial pelo Centro de Treinamento Coca-Cola (RJ), Curso de Qualidade para Engenheiros pelo Clube de Engenharia- UBQ – BA. Sócia da empresa Rosana Leal Consultoria. Professora concursada na Universidade do Estado da Bahia – Uneb, atuando no curso de Engenharia de Produção Civil.

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