Redação AECweb / Construmarket
A opção por menores preços em detrimento da qualidade tem sido o erro mais comum praticado pelos compradores das construtoras. De acordo com Gisele Bonfim, gerente técnica e de assuntos ambientais da Associação Brasileira dos Fabricantes de Tintas (Abrafati), este equívoco ocorre também em relação às compras de tintas imobiliárias. Em alguns casos, diz, o profissional compra o produto da linha econômica – de uso interno – para ser aplicado nas áreas externas do empreendimento. Ou então, tenta economizar na massa niveladora, escolhendo produto de qualidade duvidosa. “Para a obtenção de um bom resultado, a parede deve ser revestida com reboco adequado e a massa niveladora compatível com a tinta”, alerta.
Gisele lembra que há outras situações que poderiam ser evitadas, como efetuar compras em quantidade acima do necessário, gerando sobras. E orienta que no caso de grandes quantidades, o departamento de suprimentos deve planejar o que irá usar e negociar a entrega do material de acordo com o andamento de cada empreendimento.
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COMO ESPECIFICAR
Para a obtenção de um bom resultado, a parede deve ser revestida com reboco adequado e a massa niveladora ser compatível com a tinta
A escolha da tinta deve ter como primeiro critério a superfície onde será aplicada, se é de alvenaria, metal ou madeira. Em seguida, é preciso definir o local: interior ou exterior do imóvel e o tipo de cômodo. O comprador deve ter em mãos informações sobre o número de apartamentos, a metragem interna e o total de portas e janelas, para poder calcular com exatidão o espaço a ser pintado e definir a quantidade de tinta a ser adquirida. “Tendo isso mensurado, deve pesquisar o rendimento do material de cada fornecedor, levando em conta que as informações das empresas consideram apenas uma demão de pintura enquanto que, para a cobertura total, é necessário aplicar ao menos duas demãos”, diz.
SUPERFÍCIES
Nas paredes internas de alvenaria podem ser aplicadas tintas econômicas, standard ou premium, cujo acabamento pode ser fosco, acetinado ou brilhante, lembrando que as tintas econômicas são indicadas apenas para uso interno. Nas fachadas e outros ambientes externos, onde existe a necessidade de maior resistência em função das intempéries, devem ser usadas as tintas classificadas como standard e premium.
Gisele explica que esses níveis de qualidade – econômica, standard ou premium – indicam o atendimento a requisitos mínimos ligados a durabilidade, lavabilidade e poder de cobertura, como pode ser visto na tabela a seguir:
Para as superfícies de madeira, como portas e janelas, é recomendado o uso de vernizes, stains, esmaltes ou tintas a óleo, que evitam rachaduras e trincas. São materiais que protegem a madeira do envelhecimento precoce, do desbotamento e deterioração, repelindo a água e combatendo a formação de fungos, além de manter o ambiente agradável. “Madeiras em áreas externas, expostas à ação do sol, à chuva e maresia, devem receber atenção especial, com vernizes com filtro solar e esmaltes premium”, informa. No caso de metais, Gisele orienta o uso de esmaltes ou de tinta a óleo, tanto para o interior quanto para o exterior dos imóveis. E lembra que há também diversos complementos à linha de tintas imobiliárias, como massas niveladoras, massas corridas, fundos e seladores.
QUALIDADE
A regra diz: é medir duas vezes e comprar apenas uma vez
Ao escolher o fornecedor é importante verificar se a tinta atende às especificações determinadas pelas normas técnicas brasileiras. “Esta é a melhor maneira de saber se uma tinta tem padrões mínimos de qualidade”, afirma. No Brasil existe em torno de 500 indústrias de tintas, sendo que destas, 29 estão cadastradas no Programa Setorial da Qualidade (PSQ), do Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade no Habitat (PBQP–H) do Ministério das Cidades. “Participam do PSQ empresas nacionais, regionais e internacionais de todos os portes, que juntas, representam 87% do volume de tinta produzido no Brasil. Os participantes do programa podem ser conhecidos no endereço www.tintadequalidade.com.br, que também traz informações sobre pintura e simuladores de ambiente.
Gisele explica que o objetivo do governo brasileiro com o PBQP–H e com os programas setoriais é evitar que o usuário final seja lesado. “Quando a empresa é idônea e segue as normas técnicas, mas não participa do PSQ, precisa provar a qualidade de seus produtos a cada lote. Estando cadastrada no PSQ, esse procedimento não é necessário, pois os materiais são avaliados trimestralmente”, comenta.
A gerente técnica da Abrafati reforça que as empresas que participam do PSQ têm produtos de qualidade, seguem as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e mantêm políticas para conquistar o consumidor. “Existe uma concorrência saudável entre elas, e o preço pode variar tanto por uma questão de marketing quanto pelo fato de um produto oferecer maior qualidade em algum item. Entretanto, se alguma companhia apresentar um preço muito abaixo do normal o comprador deve desconfiar, pois não há como fazer milagres”, diz.
NORMAS TÉCNICAS
Na opinião de Gisele, as normas técnicas relacionadas às tintas imobiliárias são o resultado de um planejamento para dotar o setor de parâmetros claros, científicos e concretos de avaliação dos produtos, que ganhou força com a implantação, em 2002, do PSQ – Tintas Imobiliárias. A primeira norma oficial de especificação técnica de tintas imobiliárias aprovada no Brasil, em 2004, foi a NBR 15079. “Essa norma tem importância capital por abranger as tintas látex, que representam a maior parte do volume de tintas para Construção Civil produzidas no Brasil”, diz.
A NBR 15079 estabelece requisitos mínimos de qualidade exigidos para as tintas imobiliárias fabricadas e comercializadas no Brasil, como poder de cobertura de tinta seca e de tinta úmida, relacionados com o seu rendimento; e resistência à abrasão, que indica a lavabilidade e a durabilidade da tinta, de acordo com três diferentes níveis de classificação: econômicas, standard e premium.
Nos últimos anos, foram publicadas mais de duas dezenas de normas. Além da NBR 15079, outras três destacam-se por serem de especificação: uma para massas niveladoras (NBR 15348:2006), outra para esmaltes brilhantes/tinta óleo (NBR 15494:2010) e um projeto de norma, em processo final de aprovação, para vernizes brilhantes à base de solvente para uso interior (PN02: 115.29-053).
SOBRAS
Para evitar sobras de tintas, a orientação da gerente técnica da Abrafati é planejar antes de pintar. A regra, diz é “medir duas vezes e comprar apenas uma vez”. Ela lembra, ainda, que é importante usar as tintas até o fim, aproveitando as sobras imediatamente em outros locais. “Uma alternativa é misturar o que restou nas latas para obter uma cor cinza, que pode ser utilizada em grades, tapumes e outros locais”, sugere. No entanto, ressalva que só podem ser misturados produtos do mesmo tipo e com as mesmas características, não sendo possível juntar uma tinta à base de água com outra à base de solvente. Para maior rendimento é fundamental armazenar corretamente as tintas, durante o processo de pintura do imóvel – que pode levar vários dias. As latas em uso devem ser fechadas para evitar que a tinta resseque ou estrague. É bom saber
A Abrafati orienta como calcular a quantidade de tinta para cada situação. Para saber mais, acesse: www.tintasimobiliarias.com.br
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Gisele Bonfim – Química formada pela Universidade de São Paulo (USP), com experiência na indústria de tintas. Atualmente, ocupa o cargo de Gerente Técnica e de Assuntos Ambientais da Associação Brasileira dos Fabricantes de Tintas (Abrafati). Coordena o Programa Setorial da Qualidade – Tintas Imobiliárias e é também chefe de secretaria do CB-164 – Comitê Brasileiro de Tintas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
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