Preço não é o único critério na escolha do fornecedor

Sistema de seleção precisa adotar parâmetros qualitativos e quantitativos, avaliando as capacidades do fornecedor como organização empresarial
Preço não é o único critério na escolha do fornecedor

Redação AECweb / Construmarket


No ambiente da construção, até 90% das atividades podem ser subcontratadas. De acordo com Ricardo Augusto Cassel, pesquisador e professor-doutor do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a escolha do fornecedor na construção civil consiste em um conjunto de etapas que ajudam a orientar a seleção, considerando as opções no mercado no setor de materiaismão de obra, equipamentos de produção, projeto, entre outros.

“Em seu trabalho de mestrado, o engenheiro Juliano Denicol realizou uma revisão da literatura para a criação de um grupo de critérios que visam a aplicação de métodos quantitativos a serem utilizados na etapa de escolha do fornecedor, como a Teoria dos Conjuntos Difusos (TCD) e Análise de Componentes Principais (ACP)”, diz Cassel, orientador da tese em questão. A sistemática de seleção envolve a avaliação dos fornecedores frente a esses critérios e posterior aplicação dos métodos para comparar, objetivamente, as notas dos fornecedores frente às de um fornecedor ótimo, sendo escolhido o fornecedor com o escore mais próximo.

A sistemática também inclui a análise de dados qualitativos. A Teoria dos Conjuntos Difusos (Fuzzy Set Theory) colabora para o processo de seleção do melhor fornecedor, através da quantificação de informações qualitativas subjetivas. Com os dados de todos os critérios em forma quantitativa, insere-se na análise um fornecedor ótimo, com nota máxima em todos os critérios e aplica-se a ACP. “A partir deste banco de dados, a ACP tem o propósito de gerar, de forma matemática (eliminando a subjetividade da análise), uma coordenada para cada fornecedor, a qual será comparada com a coordenada do fornecedor ótimo”, detalha Cassel.

Devido aos riscos envolvidos quando se trata de um item crítico – aquele que apresenta grande impacto na construção e/ou é escasso e de difícil acesso no mercado – os clientes devem analisar os fornecedores de forma mais detalhada. O professor sugere considerar critérios qualitativos e quantitativos – que estendem a análise para além do produto a ser comprado –, verificando as capacidades do fornecedor como organização empresarial.

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MENOR PREÇO

Historicamente, a indústria da construção tem utilizado o critério do menor preço para a escolha do fornecedor. No entanto, é necessário avaliar as capacidades deste fornecedor de entregar o estabelecido em contrato. Os custos causados pela interrupção da construção decorrente da falta de um material podem rapidamente superar a economia gerada com a seleção do fornecedor de menor custo – sem contar que essa interrupção pode desencadear reações em toda a cadeia de suprimentos (que possui atividades relacionadas àquela não executada).

Um dos problemas da etapa de seleção de fornecedores é que ela dá pouca ênfase aos critérios que analisam a saúde organizacional dos futuros membros da cadeia de suprimentos. “É fundamental que os clientes tenham um processo estruturado de seleção e relacionamento com os fornecedores. Por outro lado, ao possuir a visão holística daquele fornecedor, o cliente poderá considerar quais os critérios adequados para serem priorizados em cada situação”.

ITENS CRÍTICOS

Quando determinados itens críticos somente podem ser comprados condicionados à contratação do fornecedor/instalador A ou B, é preciso estender a análise para esta outra empresa e avaliá-la perante os mesmos critérios. Até porque esse instalador experiente provavelmente é um recurso escasso no mercado e representa um risco para o desempenho do projeto em caso de falha. Se o fornecedor/instalador não representar um risco significativo e/ou for vinculado/subcontratado da empresa de quem estou comprando o item crítico, a análise pode parar na empresa que fornece o item. “Este é um bom exemplo de situação em que é necessário considerar o desempenho do fornecedor como um todo. Considerando o contexto do problema (instalador específico obrigatório), o ideal é priorizar os critérios que evidenciam o desempenho deste instalador dentro da solução (produto + serviço) que está sendo entregue pelo fornecedor”, recomenda o professor.


COLABOROU PARA ESTA MATÉRIA

Ricardo Augusto Cassel – formado em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Mestre em Engenharia de Produção pela UFRGS e Doutor em Management Science pela Lancaster University, Inglaterra. É pesquisador e professor do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da UFRGS. Faz parte da mesa diretora da SAE – Seção Porto Alegre. Foi diretor executivo da Plastisul Artefatos Plásticos, diretor industrial do curtume A. Bühler e gerente de processos da RDV Comercial Exportadora e Importadora. Possui diversos artigos publicados em congressos e revistas especializadas, tendo recebido o prêmio de melhor artigo do ano de 2010 da Business Process Management Journal.

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