Redação AECweb / Construmarket
Ao analisar patologias em obras, é possível perceber que as causas decorrem, em sua maioria, de erros de especificação e de projeto. “Em seguida, vem a má execução e, na terceira posição, aparecem os materiais com baixa qualidade interferindo na conformidade da obra”, afirma o professor Jorge Santos, da Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Ele lembra que, se o material não tem qualidade, de nada adianta a obra contar com profissional experiente na aplicação do produto, porque não conseguirá fazer daquele um sistema conforme.
“Um piso, por exemplo, que chega na obra com problemas dimensionais ou de acabamento nunca será conforme. Apesar de os materiais estarem em terceiro lugar, acabam interferindo diretamente nas demais fases da obra”, comenta.
No entanto, a responsabilidade do comprador esbarra na sua baixa autonomia. “Esse profissional precisa muito mais de apoio e política de suprimentos da empresa do que simplesmente ser cobrado pelo menor preço”, ensina Santos.
POLÍTICA DE SUPRIMENTOS
Um dos problemas na qualidade da obra é o baixo grau de detalhamento da especificação. Consequentemente, o setor de compras acaba adquirindo o material errado Jorge dos Santos
A prática de realização própria de ensaios ou exigência de laudos dos materiais aos fabricantes faz parte da política de suprimentos da construtora. Tudo começa, porém, com a pré-qualificação dos fornecedores, principalmente em relação aos produtos mais críticos.
“É importante também estabelecer critérios mínimos de especificação. Um dos problemas na qualidade da obra é o baixo grau de detalhamento da especificação. Consequentemente, o setor de compras acaba adquirindo o material errado”, alerta Santos.
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A partir dessas informações, é possível elaborar o cadastro dos fornecedores pré-qualificados, que atendem à determinada qualidade. “Inclusive, é possível criar níveis de aquisição de acordo com o rigor de cada atividade, encaixando os fornecedores nessa classificação. Isto vai permitir, também, margens de negociação”, diz.
O preço não deve ser a condição única de negociação, mas aspectos como o histórico do fornecedor também precisam ser levados em consideração. A área de suprimentos pode, ainda, se informar entre seus pares do mercado para saber a opinião corrente a respeito de determinados fornecedores.
LAUDOS
O professor recomenda alguns caminhos para aquisição de produtos de qualidade comprovada. Ele destaca que o Brasil está bastante avançado na normalização de materiais. Quase a totalidade dos utilizados na engenharia civil tem normas técnicas detalhadas, porém nem sempre atualizadas.
Na elaboração dos documentos normativos, os vários segmentos que participam dos grupos de estudos, desde fabricantes até a academia, têm como meta o estabelecimento de requisitos viáveis, passíveis de serem alcançados e com custo-benefício interessante.
“As normas brasileiras, de maneira geral, especificam claramente qual a qualidade requerida pelo material. Além disso, estabelecem os critérios de inspeção que devem ser utilizados nas obras para recebimento do material, realização das inspeções e dos ensaios da qualidade”, fala o professor.
É importante o comprador das construtoras optar, preferencialmente, por materiais que já tenham passado por ensaio e recebido o laudo de conformidade Jorge dos Santos
Tendo como referência as normas técnicas, é fácil para a construtora fazer o controle da qualidade dos materiais. Basta definir a criticidade de seus processos e, a partir daí, estabelecer as amostragens e tolerâncias para aceitação ou rejeição dos materiais.
“É importante o comprador das construtoras optar, preferencialmente, por materiais que já tenham passado por ensaio e recebido o laudo de conformidade. Uma parte dos fabricantes realiza seu próprio controle de qualidade, através de ensaios, para controlar o processo produtivo”, indica Jorge Santos.
O comprador consegue ter conhecimento sobre os ensaios de determinados materiais antes mesmo de finalizar a negociação. Nesse grupo está o aço usado para o concreto armado. “Os fornecedores disponibilizam o laudo, que permite determinar se a solução está ou não de acordo com as necessidades do projeto”, diz.
ENSAIOS PRÓPRIOS
Diante da grande variabilidade dos materiais, é importante que a construtora estabeleça diretrizes para o controle interno da qualidade, realizando seus próprios ensaios.
“O tijolo cerâmico, por exemplo, tem processo produtivo simples e, muitas vezes, poucos cuidados na sua produção. Naturalmente, tem custo de aquisição menor se comparado com outros materiais, como o cimento”, ilustra Santos para apontar negligência das construtoras:
“Por seu custo baixo, o comprador não se preocupa se o tijolo está quebrando ou se desintegrando. A maioria não faz ensaios de controle de qualidade ou, sequer, a inspeção de recebimento”.
As inspeções permitem identificar problemas como trincas e quebras. Não exigem investimentos, mas têm papel importante. “Obviamente, características como resistência mecânica não são averiguadas apenas pela inspeção visual”, complementa.
Apesar dos custos mais elevados dos materiais de revestimento de fachadas ou das esquadrias, a grande maioria não faz ensaios. “Restringe-se apenas à inspeção visual e, dificilmente, realizam testes de aderência das cerâmicas ou de estanqueidade das esquadrias, por exemplo”, diz.
Desde que entrou em vigor em julho de 2013, a ABNT NBR 15.575 – Norma de Desempenho das Edificações Habitacionais, fabricantes e construtoras se mobilizam em torno da conformidade dos sistemas regulados. “Aumentou a responsabilidade das construtoras que, junto com os fornecedores, passaram a ter a preocupação adicional de demonstrar que o material produzido atende às normas específicas”, observa Santos.
QUALIFICAÇÃO
A área de compras e suprimentos das construtoras conta com a certeza de materiais conformes quando adquirem aqueles qualificados pelo PBQP-H – programa do Ministério das Cidades. “Nesses casos, é unanimidade entre as construtoras a realização de ensaios apenas para itens estruturais, por uma questão de segurança”, ressalta.
Outro recurso à disposição dos compradores é selecionar entre os produtos certificados pelo Inmetro ou por organismos especializados e acreditados como a ABNT e ABCP – garantia de que aquele material foi testado e monitorado ao longo de determinado período.
Os dois programas têm procedimentos similares: com frequência que varia entre três e quatro meses, amostras são colhidas nas fábricas e outras adquiridas aleatoriamente no mercado. São ensaiados em laboratório da rede credenciada do Inmetro e, passando nos testes, recebem o selo da entidade impresso nas embalagens dos materiais.
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Colaboração técnica
Jorge dos Santos – Doutor em Ciências de Engenharia; Mestre em Engenharia Civil; Engenheiro de Segurança do Trabalho; Auditor para Acreditação de OCC; Lead Auditor ISO 14001; Lead Auditor ISO 9001; Lead Auditor OHSAS 18001; Lead Auditor SiAC/PBQP-H; Auditor SASSMAQ, Pós-Graduado em Engenharia da Qualidade;
Pós-Graduado em Engenharia Econômica; Pós-Graduado em Materiais de Construção; Especialização em Tecnologia de Soldagem; Examinador PNQ e PQGF; Arquiteto e Urbanista; Técnico de Edificações.
Professor do Departamento de Construção Civil da Escola Politécnica da UFRJ, das disciplinas Materiais de Construção, Tecnologia Avançada do Concreto, Gestão da Qualidade e Gestão Ambiental; Responsável pelo LAMAC – Laboratório de Materiais de Construção da UFRJ; Auditor para Acreditação de OCC e OCA pelo INMETRO;
Auditor Líder de Marcas de Conformidade de Materiais de Construção, Rótulo Ambiental e Sistemas de Gestão da Qualidade, Meio Ambiente e Segurança e Saúde do Trabalho; Auditor do SIAC – PBQP-H – sistema de avaliação da conformidade de empresas de serviços e obras de construção civil da ABENDI/RAC.