A cultura da construção civil brasileira está voltada, basicamente, para a área de compras, com pouco ou raro investimento no desenvolvimento do setor de suprimentos e logística.
“Ambas são atividades complementares. Ao integrar logística e suprimentos, a garantia de eficácia na entrega do produto será maior”, explica o engenheiro Ricardo Garcia Pachiega, gerente de logística e suprimentos da HTB Engenharia e Construção.
É a logística em si que fecha a cadeia de suprimentos, assegurando o abastecimento e integrando o fornecedor à obra. Já a área de suprimentos faz a integração do planejamento com o pedido.
“É possível construir um sistema perfeito ao vincular o planejamento da obra até a entrega final do material no canteiro, no momento exato do seu uso e aplicação”, enfatiza o especialista.
Quando se trata de sistemas complexos, como banheiros prontos ou fachadas cortinas, o sucesso da operação depende ainda mais dessa ação conjunta.
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Fornecedores de suprimentos e logística
Pachiega lembra que a definição dos fornecedores deve passar, necessariamente, pelo planejamento logístico do empreendimento desde o desenvolvimento do projeto.
“Somente assim é possível cobrir amplamente as demandas logísticas para o recebimento e manuseio de sistemas complexos”, diz o engenheiro, completando:
“Quando tudo foi pensado na fase de projeto, estarão solucionadas não apenas as necessidades de delimitação de área de recebimento e descarga de caminhões em locais apropriados, mas também de toda a infraestrutura de equipamentos e de sistemas de movimentação, sempre de acordo as normas regulamentadoras, que atenderão à necessidade do negócio”.
No canteiro
A logística deve prever, ainda, o espaço de tempo dos equipamentos disponíveis em canteiro para que, logo após o recebimento e inspeção, os sistemas complexos sejam içados aos pavimentos onde serão instalados.
“Assim que o caminhão encosta, a grua deve estar programada para levar o produto, como um banheiro pronto, até a plataforma que estará esperando no andar para transportá-lo até o local de instalação”, destaca.
Ao integrar logística e suprimentos, a garantia de eficácia na entrega do produto será maior. ” Ricardo Garcia Pachiega
Porém, independentemente de se tratar de sistema complexo ou de qualquer item da obra, o ideal é evitar ao máximo a armazenagem no canteiro de obras.
Caso ocorra o que Pachiega chama de “segundo tombo” da carga, ou seja, o material não possa ser içado conforme programado porque ocorreu algum problema com o equipamento, ela ficará em uma área de pré-armazenagem.
“Até porque estoque é dinheiro parado. Ao reduzir estoque, equilibrando-o com a velocidade da obra, o resultado é o melhor andamento da execução e do controle físico-financeiro do negócio”, observa.
Equipamentos
Dependendo do tipo de negociação do contrato, a locação dos equipamentos para movimentação desses sistemas pode ser feita tanto pela área de compras da construtora quanto pelo próprio fornecedor.
“Se a empresa opta por transferir essa terceirização, ela deve estar ciente de que está passando a responsabilidade de contratação ao fornecedor”, comenta Pachiega.
Ao reduzir estoque, equilibrando-o com a velocidade da obra, o resultado é o melhor andamento da execução e do controle físico-financeiro do negócio. ” Ricardo Garcia Pachiega
O importante é que gruas, monovias, balancins e andaimes fachadeiros, entre outros, sejam contratados de fornecedores previamente homologados pela construtora e que sigam as regras do mercado e a legislação em vigor.
E que essa atividade seja sempre realizada em uma ação integrada com a área de logística. “Imagine se suprimentos, ou a obra, decidem não providenciar um equipamento específico para a instalação de determinado sistema porque tem uma alternativa no canteiro – uma grua, por exemplo.
Quando o fornecedor chegar, o equipamento pode não atender ao objetivo proposto ou estar ocupado executando outra atividade. Portanto, é fundamental ter tudo muito bem integrado, garantindo sinergia entre as atividades”, reforça.
Suprimentos e logística complexa
Dos sistemas mais sofisticados aos insumos comuns no dia a dia do canteiro, a logística tende a demandar a necessidade da unitização das cargas, visando a agilidade nos processos.
A paletização assegura melhor movimentação dentro do canteiro de obras. E, quanto maior o número de insumos paletizados forem recebidos, menor será o volume de movimentações desnecessárias no canteiro de obras.
“Desde que a obra esteja apta a receber e movimentar esses produtos com equipamentos apropriados”, ressalva. De maneira geral e apesar de muito falar em logística, o setor da construção civil ainda não se apropriou do seu real significado.
Para Pachiega, introduzir as práticas de logística pode elevar a construtora a um patamar diferenciado frente à concorrência.
“Hoje, olhamos para uma obra e vemos cremalheira e grua. Muitos perguntam o que a construtora ganha em ter um equipamento de movimentação de cargas horizontal no canteiro, como empilhadeira ou paleteira hidráulica, acreditando que só servirá para aumentar custos de determinados processos. Ao contrário: a sua função é reduzir riscos, desperdícios e custos desnecessários com mão de obra”, conclui o engenheiro, acrescentando que as empresas que, hoje, em plena crise, queiram se manter com um portfólio ativo de obras devem investir em logística, preparando-se, inclusive, para a reativação do mercado.
Redação AECweb / Construmarket
Colaboração técnica
Ricardo Garcia Pachiega – Engenheiro Mecânico pela Faculdade de Engenharia da Fundação Armando Álvares Penteado (2000); pós-graduação em Administração Estratégica Empresarial, no Centro Universitário Nove de Julho (2007); MBA Executivo em Logística e Supply Chain Management, na Fundação Getulio Vargas (2015).
Profissional com mais de 15 anos de experiência nas áreas de suprimentos e logística em empresas de diversos segmentos, como varejo, construção civil, petroquímico, metalurgia industrial e movimentação de cargas e pessoas. É gerente de logística e suprimentos na HTB Engenharia e Construção, função que ocupou anteriormente na Gafisa.