Uso do BIM beneficia compras e suprimentos

lápis e borracha em cima de um teclado e miniaturas de carrinho de mão e tambor de concreto

Redação AECweb / Construmarket


compra de projetos com o uso do BIM (Modelagem de Informação da Construção, do inglês Building Information Modeling) pelas construtoras ainda está muito abaixo das expectativas. Segundo o arquiteto Rafael Maccheronio, diretor de BIM na Febraec (Federação Brasileira das Empresas de Consultoria e Treinamento) e titular do Studio 7 Projetos, apenas 10% a 15% dos empreendimentos contratados hoje, no país, adotam o sistema, numa proporção igual para obras públicas e privadas.

É comum as construtoras contratarem uma solução menor do escritório de projetos, esperando que atenda a todas as vertentes da modelagem. Mas isso é um equívoco. “O projeto de arquitetura feito no BIM é muito mais rico do que o produzido no processo convencional em CAD, desde que se informe para o sistema em quais etapas será usado”, diz Maccheronio, lembrando que o arquiteto deve ser comunicado, por exemplo, de que precisará inserir a codificação dos materiais para atender à área de compras e suprimentos.

OS ‘DS’ DO BIM

A amplitude da modelagem se traduz nos chamados ‘Ds’ do BIM. Ao contrário do que muitos profissionais imaginam, o projeto em 3D não é necessariamente BIM. “Só será quando incorporar informação de projeto”, ensina, exemplificando: “Ao clicar no elemento ‘parede’, lá estarão todos os dados técnicos que uma parede deve ter”.

Esse modelo tridimensional gera a documentação e também a possibilidade de compatibilização. É o caso de um projeto de instalações hidráulicas e outro de estruturas: uma vez que se tem o modelo dessas duas disciplinas, é possível colocar ambas na mesma posição para verificar eventuais interferências físicas. Se for identificada uma incompatibilidade de projetos, a estrutura poderá ser revista com uma abertura na viga para o tubo passar, por exemplo, ou o projeto hidráulico precisa seguir outro caminho. “Mas se for um projeto 3D que não é BIM, não será possível saber o que é viga e o que é tubo. É tudo uma única massa”, comenta.

A principal diferença entre o 3D convencional e o 3D com BIM é, portanto, a identificação de interferências físicas, mas também de regras de projeto. “Se determino que uma janela não pode ficar mais baixa do que 90 cm em relação ao piso, e se assim ela for projetada, o sistema vai me alertar se houver um erro”, afirma.

Quando se associa o cronograma de execução da obra ao modelo tridimensional, tem-se o 4D do BIM. A construtora pode utilizar o seu sistema convencional, como Excel, Project ou Primavera, para gerar o cronograma de obras e integrá-lo ao modelo, o que vai resultar numa animação.

Na sequência, é produzido o cronograma financeiro da obra, que é o quinto D. Além de informar quanto tempo vai demorar para executar determinada ação, a modelagem diz ainda quanto ela irá custar. Assim, a empresa poderá comparar o planejado com o real executado. “É uma forma, também, de a área de compras e suprimentos fazer a medição dos fornecedores – o que já foi entregue, o que falta, se está dentro do cronograma e do custo”, detalha Maccheronio.

COMPRAS

departamento de compras e suprimentos é, segundo o consultor, um dos mais beneficiados com a utilização dessa tecnologia. Normalmente, a área atua em três momentos, começando pela extração de quantidades para delimitar o que compreende determinada edificação. Em seguida é feito o orçamento e, finalmente, uma nova aferição que é o quantitativo de materiais. “É aí que o modelo tem o vínculo mais forte com suprimentos, porque um dos grandes desafios numa obra é a gestão do canteiro. Se suprimentos tem um modelo mostrando o que comprarsemana a semana, fica mais fácil buscar fornecedores e auxiliar na gestão do canteiro”, ressalta.

FORNECEDORES

Algumas empresas fabricantes de materiais e sistemas construtivos que já ofereciam benefícios tecnológicos para CAD possuem a biblioteca para BIM. “Quando o fornecedor entrega a biblioteca, acaba sendo mais fácil para o projetista”, diz. Há, porém, outro caminho. Os softwares de modelagem oferecem a possibilidade de o usuário customizar a biblioteca, inserindo no sistema as especificações de um fabricante que ainda não desenvolveu seu acervo. “Essa solução é polêmica, pois a customização tem custo. E as empresas de projeto que investem não disponibilizam essas informações – um ativo que pertence a elas. O caminho saudável é que os próprios fornecedores entreguem suas bibliotecas para utilização em BIM”, recomenda.

Esse processo, no entanto, está muito atrasado no Brasil, com a participação de, no máximo, 20% dos fabricantes no modelo. Há, segundo o arquiteto, muito desconhecimento sobre a metodologia. Parte das indústrias interessadas em fornecer as informações de seus produtos não construiu adequadamente suas bibliotecas. “Participo de grupo de normas técnicas na ABNT que se ocupa de criar uma orientação a essas empresas, para que desenvolvam o material corretamente, de maneira que toda a cadeia de projetos possa usar”, comenta.

Maccheronio reforça que as vantagens da modelagem para a área de compras e suprimentos são efetivas. Pode até acontecer de o projetista não especificar o fornecedor, mas o trabalho de compras é aproveitar o modelo que chegou às suas mãos e enriquecer com as informações do projeto que será executado.

“Não significa que o departamento deva dominar o processo BIM, porém ele se beneficia dos dados gerados. O projetista pode não ter especificado, por exemplo, o fabricante das portas que a área de suprimentos terá de comprar, mas o sistema informa qual o número exato de peças, as dimensões, a cor etc. Assim, o profissional terá liberdade de ir ao mercado e encontrar o fornecedor que melhor atenda a essas especificações, o que dá também mais segurança para suprimentos”, conclui.

NA PRÁTICA A compra com BIM é, em geral, decisão da alta direção das empresas. “Porém, é comum se observar, no Brasil, ‘uma construtora dentro de outra’, ou seja, são formadas equipes com autonomia para decidir como vão conduzir o empreendimento. O resultado é que muitas construtoras, inclusive de grande porte, utilizam essa tecnologia em alguns projetos, mas não em outros”, conta. Como nem sempre a área de suprimentos faz parte da equipe gestora do projeto, ela acaba não se beneficiando do modelo.

Adquirir projetos com o uso da modelagem não fica necessariamente mais caro. Segundo Maccheronio, o investimento que o escritório de projetos faz para adotar o sistema é de cerca de R$ 40 mil por usuário. “Se o escritório tem dez profissionais e vai disponibilizar o BIM para cinco deles, o investimento anual no primeiro ano seria de R$ 200 mil. Esse custo abrange hardware, porque o computador é bem diferente do convencional; software; e capacitação, que representa o menor investimento, mas é fundamental e leva em torno de seis meses”, diz. É comum que construtoras façam o investimento em escritórios de arquitetura e de instalações prediais parceiros, para ter os seus projetos 100% em BIM.

Projetos complementares contam com ferramentas para trabalhar com a tecnologia. Por conta do padrão de projetos no Brasil, o mercado de estruturas já tem uma ferramenta implementada, que converte o produto em um modelo BIM. Já a área de instalações prediais tem uma grande resistência, por ser a que mais investiu em customização de ferramentas no processo CAD. Para migrar, demoram um pouco mais, porém tem crescido nos últimos três anos.

A maior limitação está no projeto elétrico, porque a norma técnica brasileira não faz parte do software de modelagem BIM. “O que conseguimos aproveitar em projeto elétrico no BIM é um trecho muito menor do que nas outras disciplinas, entre 40 e 50%, enquanto hidráulica e ar-condicionado podem ser aproveitados 100%”, conta. A explicação para isso está no fato de que, no Brasil, o responsável pela obra de instalações elétricas é o projetista, enquanto nos Estados Unidos, é o instalador. Isso fez com que a norma técnica brasileira fosse muito mais complexa. Um avanço na cobertura do BIM para essa disciplina só virá quando os fabricantes de software concluírem que o mercado brasileiro justifica o desenvolvimento.

COLABORAÇÃO TÉCNICA

Rafael Giovannini Maccheronio – Arquiteto e urbanista pela Universidade São Judas Tadeu. Pesquisador e usuário de BIM desde 2005; membro do CEE134 – Grupo de Trabalho, Componentes BIM para o Brasil e Membro do CEE134 – Comissão Especial de Estudos sobre Modelagem de Informação da Construção (BIM) da ABNT. Instrutor e Consultor BIM com certificação Autodesk em nível Professional. É sócio da Studio 7 Projetos, professor Zigurat no 1º Master BIM Internacional em Língua Portuguesa e Coordenador de BIM da Federação Brasileira das Empresas de Consultoria e Treinamento (FEBRAEC).

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