Redação: AECweb / Texto: Juliana Nakamura
O aumento de preços de insumos básicos tem gerado preocupação entre as construtoras pelo potencial impacto sobre o custo das obras e sobre o preço de venda dos imóveis. No caso dos cabos de cobre, a elevação chegou a quase 70% nos últimos meses de 2020. Aço e cimento subiram 40%. Em algumas cidades de Minas Gerais, tijolo e cerâmica também registraram aumentos da ordem de 70%, segundo dados do Sinduscon-MG.
Os reflexos são sentidos também no INCC (Índice Nacional de Custo da Construção), que acumulou aumento de mais de 7% no período de janeiro a outubro de 2020. “Garantir equilíbrio financeiro nesse contexto é um desafio. Os contratos de venda firmados entre as construtoras e os compradores, sobretudo os produtos econômicos e standard financiados por agentes financeiros, são fixos e irreajustáveis”, explica Geraldo Linhares, presidente do Sinduscon-MG.
Para agravar a situação, em várias localidades, as construtoras têm registrado atrasos nas entregas. O cimento que era entregue em até 48 horas, passou a demorar até 30 dias. Aço e materiais elétricos, por sua vez, levam entre 60 e 90 dias para chegarem aos canteiros.
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O desabastecimento resulta em atrasos das obras. “Em função desses aumentos, o mercado só deve voltar a fazer lançamentos de forma mais consistente a partir de março de 2021 praticando preços mais elevados”, continua o presidente do Sinduscon-MG.
PLANEJAMENTO PARA REDUZIR PREJUÍZOS
Esse cenário mais crítico não deve durar muito tempo, segundo José Carlos Martins, presidente da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção). “A expectativa é a de que os preços e o abastecimento, sobretudo de aço e PVC, comecem a normalizar no primeiro trimestre de 2021”, comentou.
Ainda assim, o cenário exige que as empresas adotem cuidados com relação ao planejamento para evitar prejuízos e cumprir o cronograma de obras. “É importante que as empresas refaçam seus planejamentos, comprem os materiais quando realmente for o momento de usar, sem fazer estoque”, recomenda Linhares. Ele sugere, para quem puder, adiar as compras para o início de 2021.
PODER DE NEGOCIAÇÃO
Com um planejamento bem elaborado, fica mais fácil antecipar-se a eventuais descontinuidades e atuar com foco na busca por soluções alternativas. Disponibilidade de tempo também é fundamental para que possam ser realizadas boas negociações. Não raramente os empreendimentos têm suas margens de lucro consumidas por negociações conduzidas às pressas, para não atrasar as frentes de produção.
Outros aliados importantes das construtoras são as tecnologias que apoiam o processo de orçamentação e compras. Uma prática recomendada é utilizar ferramentas que permitam centralizar o processo de compras e que façam uma pré-qualificação dos fornecedores, por exemplo, via indicação de outras construtoras.
“Essa solução permite ao comprador ter acesso a um universo maior de fornecedores. Isso ajuda a conseguir negociações melhores e maximiza as chances de encontrar um fornecedor com estoque disponível”, comenta Bruno Oliveira, executivo de contas do Construcompras.
Construtoras com parcerias estratégias com fornecedores e que consigam negociar em grande volume tendem a obter mais vantagens em negociações e compras. Empresas como Cyrela e MRV, por exemplo, têm procurado negociar com seus fornecedores com bastante antecedência visando oferecer aos fornecedores horizonte de trabalho. Para obter preços mais competitivos, essas empresas também têm buscado fechar grandes pacotes de contratação de insumos e serviços, já antevendo obras que ainda não começaram.
QUALIDADE E CONFIANÇA
Processos planejados e boas ações para a seleção e homologação de fornecedores são igualmente cruciais para garantir compras bem-sucedidas. Além do preço, qualidade e confiabilidade de entrega são critérios que não podem ser negligenciados.
Nesse ponto, vale dedicar atenção especial à análise da saúde financeira do fornecedor, à flexibilidade de métodos de pagamento e ao atendimento às normas técnicas. Também é salutar olhar para dentro e buscar fragilidades no processo interno de gestão de suprimentos. Altas taxas de devolução de materiais, por exemplo, são indicadores de falta de assertividade dos processos de compras.
COLABORAÇÃO TÉCNICA
Geraldo Linhares – engenheiro civil com mais de 40 anos de experiência no mercado da construção civil. É presidente do Sindicato da Indústria da Construção em Minas Gerais (Sinduscon-MG).Bruno Oliveira – executivo de contas na Construmarket, atua na área comercial da plataforma de e-commerce Construcompras. José Carlos Martins – presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC)