Redação AECweb / Construmarket
A área de compras de vários setores da economia que adotam o supply chain management (SCM), ou gestão da cadeia de suprimentos, pode servir de modelo para transformar a atividade nas construtoras e obter mais lucratividade nas compras.
Uma gestão abrangente e estratégica, que integre as diversas áreas da empresa, é capaz de obter resultados que vão muito além da redução de custos por meio da simples negociação de preços. “O papel dessa área deve começar pela concepção do projeto, passando depois por orçamento, planejamento até sua implantação”, afirma o engenheiro Alcides Rodrigues Figueiredo Junior, gerente de Desenvolvimento de Projetos na SunEdison e sócio-diretor na Deal Consulting.
NOVA ABORDAGEM EM COMPRAS
No formato tradicional, o departamento de compras adquire materiais e equipamentos pré-definidos, e o máximo que pode fazer é negociar percentuais de desconto no preço. Já na forma mais moderna, a gestão da cadeia de suprimentos pode aumentar a lucratividade de diversas maneiras.
Entre elas, pode-se destacar a redução do custo total de aquisição, o diligenciamento para cumprimento do planejamento, dos contratos e do prazo e a melhoria dos processos, atuando como integradora das disciplinas de um projeto. “Se conheço o escopo e a necessidade do cliente, devo trazer para a engenharia, que tem uma abordagem técnica, uma visão de mercado. Analiso outros cenários com marcas e tecnologias diferentes e proponho uma inovação que está acontecendo lá fora para dentro da empresa. Com isso, é possível aumentar a lucratividade”, avalia o especialista.
A experiência de Figueiredo em grandes construtoras mostra que a área de compras e suprimentos ainda fica a dever para essa visão abrangente da lucratividade da empresa por meio da melhoria de processos, da tecnologia e da inovação. “Como o SCM é pouco desenvolvido na construção civil, quando comparado com a indústria e o varejo, é necessário aprendermos com eles e ter um time que saiba fazer as adequações necessárias para trazer os exemplos de um mercado para outro”, considera, exemplificando com um caso vivido em uma indústria: um palete era embalado com seis voltas de fita de aço que custava, hipoteticamente, R$ 100. Utilizando outro material inovador de PET, apesar do custo de R$ 120, bastavam quatro fitas por pallet. “Esse case se refere a um produto pronto de prateleira. Quando se pensa em um produto engenheirado, o impacto é muito grande em redução de custo, porque há uma quantidade maior de variáveis para trabalhar e com ótimo retorno”, diz.
A aquisição de um sistema de ar condicionado em um prédio comercial é outro bom exemplo, partindo do princípio de que não se deve comparar somente o investimento inicial (CAPEX), mas também o custo de operação (OPEX). A compra de um equipamento com um CAPEX 5% mais caro, pode ter o custo total mais barato, pois tem um OPEX 2% menor, porém, vai refletir mensalmente no fluxo de caixa do cliente durante anos.
DILIGENCIAMENTO
Ao maximizar a equação custo, prazo e qualidade, o supply chain management busca o lucro e, ao mesmo tempo, evita o prejuízo. “Na engenharia é preciso ter, além das compras, o diligenciamento dos materiais e equipamentos adquiridos”, recomenda.
Para explicitar a importância do diligenciamento, ou gestão pós-compras, no que diz respeito ao aumento da lucratividade em compras, o engenheiro menciona o caso da caixilharia de alumínio, um dos sistemas mais críticos de qualquer projeto, principalmente quando se trata de pele de vidro. O projeto executivo do caixilho interage com a arquitetura do empreendimento. Portanto, é essencial diligenciar toda a documentação de engenharia desde o princípio, fiscalizando se o fornecedor está produzindo no prazo, de acordo com o projeto. “O fornecedor não vai avisar, em janeiro, que a fachada não ficará pronta em junho, data final planejada. Se houver uma fiscalização rígida, não haverá surpresas do tipo”, fala Figueiredo.
Inicialmente, diligenciar envolve custo, mas, geralmente, ele é menor do que o custo evitado, além do tempo que o gerente e o diretor terão de despender caso tenham de solucionar um problema. Ou o tempo que o presidente terá de gastar com o cliente justificando o atraso.
REDUÇÃO DE CUSTOS
Outra forma de aumentar a lucratividade em compras é reduzindo custos operacionais das áreas envolvidas ao identificar e otimizar processos que não agregam valor e aqueles passíveis de serem automatizados.
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“Lembrando que compras têm uma forte interface com os vários departamentos em uma construtora (engenharia, planejamento físico e financeiro, fiscal, entre outros) e com os fornecedores, posso utilizar ferramentas para automatizar processos que não geram valor. Além disso, todas as áreas têm o seu controle do processo. Imagine o ganho que a empresa obtém quando consegue integrar todas essas informações por meio de ferramentas adequadas”, conclui Figueiredo.
COLABORAÇÃO TÉCNICA
Alcides Rodrigues Figueiredo Junior – Engenheiro civil com especialização em Estratégia e Negociação pelo IMD (Suíça), além de Finanças e Economia pela FGV-EAESP. Possui mais de 18 anos de experiência na implantação de supply chain estratégica em empresas como Promon Engenharia, Votorantim, JHSF e Hidrovias do Brasil. Como consultor, desenvolveu a cadeia de suprimentos para empresas estrangeiras de equipamentos que desejavam se instalar ou fornecer no Brasil. Atualmente, desenvolve projetos em produção de energia solar na SunEdison do Brasil.