Passo a passo para compras sustentáveis

Imagem de um notebook aberto com algumas mini caixinhas de papelão em cima, com o desenho de um carrinho de mercado, fazendo compras sustentáveis

O processo de compras sustentáveis deve garantir que a aquisição de qualquer material esteja de acordo com o desempenho técnico especificado para o produto.

Além disso, é preciso que a compra seja realizada com um fornecedor de responsabilidade ambiental e social comprovada, e gere, mesmo com todos os requisitos adicionados aos processos, lucro para a empresa construtora.

A definição é da arquiteta Patrícia Alves do Nascimento, mestre em Tecnologia e Inovação na Construção Civil e autora de dissertação sobre o tema na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP).

Com base na revisão bibliográfica e na pesquisa que realizou, a profissional identificou como processos-chave do setor de compra a seleção de fornecedores e o cadastro de fornecedores; a cotação; e a formalização da contratação.

“Esses processos permitem uma possibilidade maior de aplicação dos conceitos e requisitos de sustentabilidade, além de ação direta junto ao fornecedor”, explica.

FORNECEDORES SUSTENTÁVEIS PARA COMPRAS SUSTENTÁVEIS

A fase de seleção e cadastro de fornecedores é a mais relevante para a realização de compras sustentáveis, pois habilita a empresa contratada, alinhada às questões de sustentabilidade e responsabilidade social definidas pela contratante, a integrar o quadro de fornecedores da construtora.

Os requisitos de sustentabilidade também precisam constar, obrigatoriamente, da fase da cotação e na fase de formalização da contratação.

“No processo de compras sustentáveis, o posicionamento do fornecedor frente ao documento de cadastro é imprescindível para que ele possa ser considerado para a fase de cotação”, ensina Patricia.

É na fase de seleção e cadastro que é conhecida e conferida toda a documentação formal e de legalidade do fornecedor, inclusive solicitações exclusivas relacionadas ao material ofertado.

É o caso dos fornecedores de madeira, que devem possuir documentação válida junto ao Ibama, por exemplo.

Entre as principais exigências dessa primeira fase, estão os dados cadastrais da empresa e dos sócios, o contrato social e a descrição dos serviços prestados.

“Algumas empresas podem ofertar produtos em desacordo com a atividade econômica apresentada no cartão do CNPJ”, exemplifica a especialista.

Também é importante conhecer a região de atuação da empresa, o seu tempo de existência e características do seu atendimento padrão.

Além de documentos que demonstram a sua situação formal, é preciso questionar o fornecedor sobre a sua qualificação, os seus processos produtivos, as suas ações de sustentabilidade e certificações e o atendimento às normas técnicas vigentes.

Também devem ser considerados os aspectos sociais, como repulsa ao trabalho escravo e infantil, bem como a valorização da CIPA e de aspectos de transparência e governança.

Para vender mais barato, uma empresa pode oferecer um material “sem nota”. Esse tipo de empresa claramente demonstra negligência com os processos formais e legais.

“Obviamente, o seu preço será o mais barato, porém oferece alto perigo à contratante”, alerta Patricia. Complementando o cadastro, é interessante realizar, pelo menos com os fornecedores de produtos de alto impacto e valor, a consulta de clientes anteriores de maneira a atestar as informações prestadas.

É importante a fixação de um período para a atualização dos dados cadastrais dos fornecedores, pois as licenças têm datas de vencimento, e o desempenho do fornecedor no atendimento pode sofrer alterações para o lado negativo.

AVALIAÇÃO DO FORNECEDOR

Uma vez finalizado o processo de seleção e cadastro, Patricia propõe indicadores para avaliar – positiva e negativamente – os fornecedores de materiais específicos e de grande impacto.

A análise deve abranger as várias etapas do processo produtivo dos itens, da extração até o uso e a operação do edifício, inclusive o descarte pós-uso.

Baixe aqui um mapa comparativo de propostas para facilitar seu processo de cotação.

Os indicadores podem ser apresentados como fichas, em um sistema em que cada material é analisado em suas especificidades.

“Dessa forma, é possível identificar um percentual de atendimento às questões de sustentabilidade relativas a um determinado material ou grupo de materiais. As fichas não precisam ser definitivas, mas apoiar o início da discussão de sustentabilidade de materiais nas construtoras, com foco no setor de compras”, argumenta.

Para a elaboração da ficha, o material ou segmento a ele que se relaciona deve ser pesquisado e entendido em detalhes, visando à total garantia ao processo de compras sustentáveis.

RESPONSABILIDADE

gestão de compras da construtora deve se certificar de que os processos realizados pelo fornecedor, da produção ao descarte, respeitem requisitos de sustentabilidade e de responsabilidade social.

“Esses processos são de responsabilidade inicial do fornecedor, e a contratante não tem como alterá-los, só sugerir, caso a parceria entre ambas seja interessante”, orienta.

Porém, cabe à construtora entender que, após a contratação de um determinado fornecedor, seja de material ou de serviços, a responsabilidade legal, ambiental ou social passa a ser compartilhada.

“A construtora que não se interesse pelo processo de produção do produto contratado pode acabar prejudicada no caso de uma fiscalização de irregularidade”, alerta a estudiosa, revelando que 25% das construtoras pesquisadas por ela afirmaram terem sido autuadas por conta do não cumprimento de alguma questão social por parte do fornecedor.

Entre as falhas, predominam os atrasos de pagamento dos funcionários flagrados pela fiscalização dos sindicatos de classe. Portanto, a construtora deve conhecer a fundo o fornecedor para minimizar futuros riscos e prejuízos.

QUEBRA DE PARADIGMA

Patrícia Nascimento destaca que o melhor preço não é o preço mais baixo. “O melhor preço é aquele que abrace as questões sociais e ambientais e, ainda, possua um desempenho econômico diferenciado”, frisa.

A nova norma ISO sobre compras sustentáveis já traz esse conceito. É preciso evitar a análise isolada do preço e abranger questões de custo do ciclo de vida, eficiência de recursos, menor impacto socioambiental e inovação que agregam valor.

Determinado produto, ainda que mais caro inicialmente, pode apresentar uma vida útil muito maior do que a do seu concorrente direto.

“O custo ‘oculto’ da manutenção, da necessidade da troca em prazo reduzido e do volume de lixo gerado é comumente desconsiderado”, ressalta a especialista, complementando: “É preciso quebrar o paradigma de que sustentabilidade custa caro ou é difícil”.

Por se tratar de um processo simples, sem grandes demandas, a profissional entende que as construtoras estejam prontas para adotá-lo.

“Porém, é importante que a alta direção – e aí se incluem os gerentes e as diretorias de suprimentos – entenda a importância de se realizar compras sustentáveis”, destaca, reforçando que o conceito de corresponsabilidade entre a empresa construtora e o seu fornecedor deve servir de regra para a implantação efetiva de um processo de compras sustentáveis.

“É imperativo destacar o entendimento de que não existe construção sustentável sem o uso de materiais sustentáveis, fabricados por fornecedores com responsabilidade ambiental e social comprovadas”, finaliza.


Redação AECweb / Construmarket


COLABORAÇÃO TÉCNICA

Patricia Alves do Nascimento – Arquiteta e Urbanista pela Universidade Bandeirante de São Paulo (2002), possui pós-graduação em Gerenciamento de Projetos – Práticas do PMI pelo Senac Nove de Julho (2009).

É mestre em Tecnologia e Inovação na Construção Civil pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (2016). O tema do mestrado defendido são compras sustentáveis em empresas construtoras de edifícios. Possui experiência em setores de suprimentos de empresas construtoras.

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