Compra de importados está em baixa na construção civil

Entenda o cenário que provocou variação nos preços e na demanda dos materiais importados.
Trabalhadores em uma obra em andamento

Entre 2009 e 2013, a economia brasileira atravessava um momento de pleno aquecimento e, como consequência, aumentavam as atividades nos canteiros de obras por todo o país. A elevada demanda gerou alta nos preços dos materiais de construção. Para driblar a situação, empresas passaram a importar, o que gerou desequilíbrio na balança comercial da indústria de materiais.

O saldo positivo, em 2009, de US$ 569 milhões, passou a ser deficitário no ano seguinte. O auge ocorreu em 2013, quando o déficit atingiu US$ 1,241 bilhão. “Já em 2014, com a desaceleração do setor, foi reduzido para US$ 1,110 bilhão”, afirma a economista Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos na área da construção na Fundação Getúlio Vargas (FGV).

A indústria nacional tem produtos para oferecer, apesar dos valores mais elevados. É uma questão de competitividade Ana Maria Castelo

Atualmente, o cenário é diferente. Ainda há déficit na balança comercial de materiais de construção, mas em números bem menores. Em março de 2015, a diferença foi de US$ 50,1 milhões, caindo 47,5% com relação a fevereiro. Na comparação com março de 2014, houve queda de 58,8%.

“O déficit setorial acumulou, nos últimos 12 meses, baixa de 24,6% com relação ao período anterior, somando um total de US$ 998,8 milhões. O primeiro trimestre de 2015 também mostra um recuo no déficit de 24,5%, que acumula total de US$ 343,2 milhões”, diz Ana Maria, explicando que a queda se justifica pela desaceleração da economia no país e pela alta do dólar. “Vale lembrar que o ciclo de grande crescimento imobiliário está chegando ao fim”, completa.

COMPRA DE IMPORTADOS É MOTIVADA PELO PREÇO

Para a economista, os preços menores são o principal atrativo dos materiais vindos de fora, principalmente dos fabricados na China. “A indústria nacional tem produtos para oferecer, apesar dos valores mais elevados. É uma questão de competitividade”, ressalta.

A análise da economista é reforçada pelo engenheiro Carlos Alberto de Moraes Borges, vice-presidente de Tecnologia e Qualidade do Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis Residenciais e Comerciais de São Paulo (Secovi-SP), e diretor técnico da construtora Tarjab.

“São poucos os itens sem similares no país. Com o ‘boom’ da construção, muitos fabricantes vieram ao Brasil, e a oferta de materiais no mercado nacional aumentou. Antigamente, ao visitar feiras na Europa, nos maravilhávamos com tanta tecnologia. Hoje não vemos mais nenhuma novidade nesses eventos. A globalização tornou tudo acessível, dispensando a importação de tecnologia”, avalia o engenheiro.

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São poucos os itens sem similares no país. Com o ‘boom’ da construção, muitos fabricantes vieram ao Brasil, e a oferta de materiais no mercado nacional aumentou Carlos Borges

A China é um dos principais destinos quando o assunto é a importação de materiais de construção, apesar de a nação asiática carregar a fama de fornecer produtos com qualidade inferior. Entretanto, segundo Borges, o país também disponibiliza bons itens. “É preciso conhecer as empresas certas. Hoje, há muitos brasileiros que vivem na China e fazem o trabalho de indicar os melhores fabricantes”, comenta.

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COMO E QUANDO IMPORTAR

Borges menciona construtoras que atuam no segmento hoteleiro como as que têm estruturas bem organizadas para importação de materiais e, por isso, acabam trazendo grande quantidade de itens de fora, incluindo portas, fechaduras, porcelanato, materiais elétricos e hidráulicos, entre outros.

“Mas com o dólar em alta e o mercado nacional retraído, é provável que parte desses produtos não seja mais comprada lá fora”, estima. Ao optar pela importação de materiais de construção, a empresa deve dar atenção especial à logística, que pode ser feita por uma trading ou por meio de importadora, dependendo da situação. “Há casos em que diferentes empresas se unem para trazer containers cheios. O processo de logística não é fácil e exige conhecimento, análise de volumes, entre outras características”, destaca.

A assistência técnica também pede cuidados. “Muitos acabam comprando quantidade maior de produtos para a substituição em caso de defeitos. Se esse assunto não for bem analisado, pode resultar em problemas para a construtora e até para o consumidor, que não conseguirá realizar a manutenção”, adverte o engenheiro.

Com o dólar em alta e o mercado nacional retraído, é provável que parte desses produtos não seja mais comprada lá fora Carlos Borges

Algumas empresas, que anteriormente atuavam somente com a fabricação de materiais de construção, passaram a importar parte de seus produtos. É o caso do segmento de indústrias nacionais que produzem portas de alumínio ou de madeira, e as equipam com fechaduras importadas.

“Nesse caso, o fornecedor do produto final faz a verificação e assume o risco caso o item esteja fora de norma. Vale lembrar que empresas que comercializam produtos em não conformidade – mesmo importando –, podem ter problemas judiciais”, lembra o engenheiro.

A burocracia é outro fator que, se não existisse, teria resultado em aumento ainda maior no déficit da balança comercial da indústria de materiais. “Mesmo com todas as dificuldades, a valorização da moeda compensava em um contexto de crescimento no setor da construção”, afirma Ana Maria.

“Agora, o comércio de materiais é o importador majoritário. As construtoras se organizam no momento em que estão com as atividades fortalecidas e, que os preços estão em alta. É uma forma de se contrapor à elevação dos custos. No período pós 2009, o valor dos materiais de construção subiu abaixo da inflação média do país devido à desoneração e à maior penetração de produtos importados. Com o aumento da competitividade interna, os preços dos materiais não subiram tanto”, analisa.

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Redação AECweb / Construmarket

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Colaboraram para esta matéria:

Ana Maria Castelo – Economista e mestre pela Universidade de São Paulo (USP), é coordenadora de projetos na área da construção na Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Responsável pelo INCC-M e Sondagem da Construção. É coeditora da Revista ‘Conjuntura da Construção’ e presta assessoria ao Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP).

Carlos Alberto de Moraes Borges – Vice-presidente de Tecnologia e Qualidade do Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis Residenciais e Comerciais de São Paulo (Secovi-SP), e diretor técnico da Construtora Tarjab.

Formado em engenharia civil pela Faculdade de Engenharia da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP) e pós-graduado em Administração pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Tem MBA em Marketing pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e é Mestre em Engenharia pela Escola Politécnica da Universidade de São P

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