Comprador, uma profissão em ebulição

Homem olhando vigas de ferro em um depósito de materiais e fazendo algumas anotações.

Entrevista: Almiro Reis Neto

Nos últimos anos, o mercado imobiliário cresceu em torno de 20% ao ano, recuperando o tempo perdido nas últimas décadas, isso está sendo ótimo para o novo comprador.

O ápice foi registrado em 2010, um ano após o lançamento do programa Minha Casa, Minha Vida pelo governo federal. Hoje, embora apresente certa acomodação, os players do setor acreditam que o crescimento se mantenha na casa dos 15% ao ano nos próximos dez anos.

“Esse cenário tem provocado alterações no relacionamento entre as empresas e afetado, sobremaneira, o profissional de compras”, afirma Almiro dos Reis Neto, vice-presidente e diretor de conhecimento e aprendizagem da Associação Brasileira de Recursos Humanos – ABRH-SP.

“O mercado de compras, em geral, passa por uma grande mudança. No passado, o comprador atuava sem muita base de dados, usava o poder de pressão da empresa, que representava e exigia bons preços e prazos. Hoje, as compras são estratégicas, globais e o comprador precisa ter uma visão mundial”, comenta.

Ele explica que empresa, a Franquality Consultores, realiza vários trabalhos de perfil de competência e que, embora não cheguem a ser específicos sobre um determinado tema, a novidade é que a está havendo uma grande transformação no setor de compras.

“A atividade passa a ser uma profissão que exige técnica e conhecimento. A carreira está em ebulição, novas competências estão sendo criadas e a área de compras está se globalizando”.

Segundo ele, a profissão passou a ser uma área de carreira dentro das empresas. “Isso é algo novo. Os compradores precisam ser bons negociadores e entender do mercado em que atuam. Internamente, as empresas procuram formar bons profissionais, mas já tem aquelas que estão buscando-os em seus concorrentes. A atividade de compras está se tornando uma carreira importante e almejada”, analisa.

Almiro dos Reis Neto diz que as novas exigências dividiram a carreira do comprador em transacional ou estratégico e o comprador comum, aquele que atua na rotina da obra, que compra semana a semana.

“O que passa a ter mais importância é o comprador estratégico. O perfil desse profissional exige fluência em inglês, visão internacional, experiência no exterior, ou seja, ter vivido na Europa, Japão ou EUA, e domínio das ferramentas disponíveis na internet. Este tipo de comprador precisa ainda entender de negociação, ser um gerente de projetos e conhecer matemática financeira”, afirma.

Ele explica que o comprador estratégico é quem decide quem serão os parceiros dentro da obra. “São outros padrões de negociação. O comprador define os fornecedores, trata direto com o fabricante e negocia a obra na sua totalidade em busca de margem, prazo de entrega e custos menores, diz, ressaltando que o profissional precisa ser técnico, ser um engenheiro de obras, e não apenas um bom negociador. Além disso, a compra direta do fabricante, que pode garantir a entrega dentro do prazo com preços competitivos, depende do tamanho da empresa que está construindo. “Não é toda construtora que consegue comprar direto do fabricante, o que exige ainda mais habilidade do comprador”, afirma.

Almiro Reis avalia que com a falta de mão de obra verificada praticamente em todos os setores da economia, não há espaço para simplesmente trocar o profissional desatualizado por outros mais jovens.

Segundo ele, é importante treinar o comprador experiente para a nova realidade, bem como buscar e treinar jovens engenheiros para a profissão. O mesmo fenômeno ocorre em outros setores da economia. “A área de compras está se profissionalizando, os sindicatos estão oferecendo treinamento aos seus associados”, diz.

Comprador da Geração Y

Quanto a redução da média de idade dos profissionais que atuam em compras, ele avalia que o perfil do comprador está mais jovem porque a mão de obra brasileira é jovem.

“Percebemos também o efeito da chamada Geração Y que está entrando em todos os segmentos, com trânsito nas novas tecnologias, na internet, globalização, fluência em inglês e experiência internacional. Esses jovens estão conquistando espaços importantes”, afirma. A chegada desta nova geração traz uma grande mudança no relacionamento das empresas com seus colaboradores.

“O que antes era uma profissão fechada hoje é mutante. Ora o profissional é comprador, ora é convidado para ser vendedor na concorrente, o que exige dele muita ética. A área de compras passou a usar tecnologia de forma ampla, o que permite intenso relacionamento virtual entre profissionais de compras e de vendas”, atesta.

Outro ponto levantado por Almiro Reis é a questão da fidelidade – importante na relação com o fornecedor, mas que o profissional precisa estar atento de que, acima de tudo, sempre está a questão do preço.

“A fidelidade é baseada em bons negócios, parceria de valores e, quando há falta de material, o fornecedor sempre acaba por privilegiar os clientes mais antigos”, diz.

Para ele, a fidelidade no setor da construção civil ganha importância no cenário como o atual, quando há grande demanda e falta de produtos.

“Não é como em outros setores, que pode buscar no exterior. Nem tudo é possível importar, não dá para substituir todos os produtos, como o concreto, isso pode gerar aumento dos custos e até atraso da obra”.

No entanto, lembra, tem setores em que a fidelidade é inerente à tecnologia escolhida, como no caso das empresas de Telecom. Uma vez que comprou de uma empresa, não dá para mudar por conta da tecnologia adotada.

Baixe aqui um mapa comparativo de propostas para facilitar seu processo de cotação.


Redação AECweb / Construmarket

administrator:

This website uses cookies.