Compradores devem ter atenção aos ‘produtos verdes’

Entenda como as construtoras utilizam os produtos sustentáveis em suas obras e as dificuldades delas em relação a esses materiais.
Um prédio, olhado de baixo para cima, onde no fundo vemos árvores.

As construtoras procuram utilizar produtos verdes em suas obras, mas têm grande dificuldade de encontrar materiais que realmente atendam as normas e os quesitos de sustentabilidade.

“Os empresários querem saber se existe alguma lista de produtos sustentáveis”, afirma o engenheiro Olavo Kucker Arantes, diretor de Meio Ambiente do Sindicato da Construção (SindusCon) de Florianópolis e conselheiro do Conselho Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS).

Kucker ressalta que as empresas que sempre construíram sem se preocupar com ações de sustentabilidade têm dificuldade de escolher os materiais.

O engenheiro observa que as construtoras de Santa Catarina são incorporadoras e têm poder de decidir sobre o tipo de material que vão usar nas obras.

“Elas procuram trabalhar com materiais de origem sustentável, independente da possibilidade de certificação de seus empreendimentos. As empresas seguem, por convicção, uma agenda de respeito ao meio ambiente”, diz.

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As aparências enganam

Tanto fabricantes de materiais construtivos como donos de construtoras utilizam essa prática, prometendo algo que na realidade não entregam. O diretor de Meio Ambiente do SindusCon alerta: “é preciso muito cuidado na hora da compra dos chamados produtos verdes”.

Ao optar por materiais construtivos sustentáveis o comprador deve ter cuidado com o greenwash: produtos que usam uma roupagem ‘verde’ e não atendem às especificações.

“Tanto fabricantes de materiais construtivos como donos de construtoras utilizam essa prática, prometendo algo que na realidade não entregam”, avisa.

Existem, por exemplo, chapas feitas de material reciclável, utilizadas nos canteiros de obras, que se desmancham ao contato com a água. “Além disso, a cola utilizada internamente para agregar o material pode ser danosa ao meio ambiente”, pontua.

Há, no entanto, bons exemplos. É o caso de uma empresa que utiliza casca de ostras e de mariscos para reduzir a quantidade de cimento na produção de blocos.

“Em Florianópolis, temos uma produção significativa destes frutos do mar e as sobras geram grade passivo ambiental. Ao misturar esse resíduo triturado na massa de concreto, a empresa oferece destino ao passivo, reduz o uso de cimento e aumenta a resistência dos blocos”, comenta.

Porém, por serem considerados ‘verdes’, alguns desses materiais são mais caros, o que, segundo Kucker, não se justifica. “Talvez pelo fato de ser um produto diferenciado, com procura maior do que a oferta. Mas, a rigor, não há explicação. A tendência é que essa prática deixe de ser utilizada, afinal, a sustentabilidade deve ter seu viés econômico, pois se o produto é caro, não é sustentável”, afirma.

Materiais, de fato, verdes

A tendência é que essa prática deixe de ser utilizada, afinal, a sustentabilidade deve ter seu viés econômico, pois se o produto é caro, não é sustentável.

O engenheiro define como materiais ‘verdes’ aqueles que oferecem menor impacto ao meio ambiente, diminuem os passivos ambientais em seu processo produtivo e permitem reduzir o consumo de água e de energia.

As placas de madeira plástica – fabricada com resíduos de PET extrudado, por exemplo – substituem a madeira e têm sido utilizadas em decks de marinas e de piscinas, como dormentes de trens ou mourões de cercas nos ambientes rurais.

“No Rio de Janeiro uma indústria usa esse material na fabricação de tampas de bueiros, bocas de lobo, bancos de jardins”, comenta. Além dos reciclados, como os rodapés produzidos com sobras de isopor, há os produtos sustentáveis pelos ganhos que propiciam.

Como exemplo cito as lâmpadas LED, metais sanitários economizadores de água e medidores de consumo de energia individuais.

Como comprar seus produtos verdes

Com o objetivo de auxiliar o comprador na escolha correta, Kucker lembra que no seu site, o CBCS sugere alguns procedimentos antes da compra.

Para se precaver da propaganda enganosa é necessário que o cliente confirme a consistência e relevância das afirmações de ecoeficiência dos produtos e processos declarados pelos fornecedores. 

Mesmo os produtos certificados podem levar a equívocos, por isso é preciso checar os critérios da certificação, se são públicos e qual a seriedade do processo (www.cbcs.org.br).

Informação parcial sobre produtos verdes

Trata-se da informação que tenta disfarçar aspectos negativos dos produtos, destacando os positivos, omitindo problemas ambientais ou eventuais limitações.

Olavo Kucker Arantes orienta que, para se precaver, o comprador deve exigir provas documentais que sustentem as afirmações do fornecedor.

Precisa estar atento ao conteúdo genérico, aquele que gera dúvida quanto ao real benefício ambiental do produto durante todo o seu ciclo de vida.

Segundo ele, há declarações que não contribuem para informar sobre o desempenho do produto, ou que anunciam como vantagens conquistas ambientais disseminadas no mercado. Em alguns casos, o benefício citado não está associado ao impacto ambiental do produto.

Como o caso do fabricante informar que sua tinta contém pigmentos naturais, e deixar de comunicar sobre a resina, os voláteis e os biocidas, que representam seus principais problemas ambientais.

Fique atento!

– Só informar que o produto é 100% reciclável não basta. O ideal é saber se existe estrutura ativa de reciclagem;


– Fique atento às declarações exageradas, afirmações falsas ou divulgação apenas dos resultados favoráveis;


– Alguns fornecedores anunciam que o produto é produzido com 90% de matéria-prima reciclada, mas não informam sua baixa durabilidade.

Outros anunciam um produto como sendo natural sem mencionar a presença de estabilizantes e corantes em sua composição.


Redação AECweb / Construmarket


COLABOROU PARA ESTA MATÉRIA

Olavo Kucker Arantes – Engenheiro de produção civil formado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Fez especialização na escola de novos empreendedores (ENE/UFSC), com mestrado em engenharia de produção na área de gestão de projetos e inteligência competitiva. É diretor de Meio Ambiente do Sindicato da Construção (SindusCon) de Florianópolis desde 2003.

É cofundador do Conselho Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS). Membro do Conselho Estadual das Cidades, do Conselho Municipal de Saneamento e da (Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura) AsBEA-SC – Coordenador do Grupo Trabalho – Cidades. É diretor da DUX arquitetura e engenharia bioclimática e da Bautec construção e incorporação Ltda.

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