Compradores e seu papel na gestão de resíduos

Entulho de tijolos e cimento.

A aquisição de materiais para obras interfere diretamente na gestão de resíduos e na logística reversa, inclusive das embalagens dos produtos.

São decisões que alcançam a esfera da proteção ambiental, mas também da redução de custos para a construtora e a cadeia de suprimentos.

A defesa do tema é feita pelo professor Celso Luchezzi, do Mackenzie, e diretor na Luchezzi e Treinamentos e Consultoria em Logística e SCM, no livro que está lançando: Logística Reversa na Construção Civil – Um Mundo de Oportunidades.

Em primeiro lugar, ao contratar a empresa que fará a destinação dos resíduos da obra, o setor de compras é responsável pela credibilidade do prestador do serviço. Deve, inclusive, providenciar o monitoramento do descarte final.”Celso Luchezzi

“Em primeiro lugar, ao contratar a empresa que fará a destinação dos resíduos da obra, o setor de compras é responsável pela credibilidade do prestador do serviço. Deve, inclusive, providenciar o monitoramento do descarte final. De acordo com a Lei 12305 – Política Nacional de Resíduos Sólidos – a responsabilidade pelos inertes gerados é da construtora”, alerta.

O custo da caçamba que recebe materiais misturados – madeira, papel, papelão, plástico e até mesmo resíduo de alvenaria – chega a ser cerca 20% maior, dependendo da região, do que daquela que abriga materiais separados.

“A contribuição da área de compras é de alinhamento com a equipe de obra, orientando para que a produção separe os resíduos”, recomenda.

Luchezzi relata que visitou um canteiro que havia gasto, ao longo de dois anos, R$ 200 mil com a destinação correta dos resíduos. Se não tivessem previamente classificado os materiais para deposição nas caçambas, o custo saltaria para R$ 250 mil.

“Para uma obra que tem custo total de R$ 4 milhões, essa economia pouco representa. O importante, porém, é a cultura que a construtora reverte para o dia a dia de suas equipes. Está educando as pessoas para as obras que produz simultaneamente e as que executará no futuro, com retorno em longo prazo”, comenta.

Há, ainda, ganhos de imagem da construtora, ao demonstrar aos compradores dos imóveis que aquela obra cumpriu, com rigor, a Política Nacional de Resíduos.

Baixe aqui um guia de melhores práticas na gestão de suprimentos da construção civil.

Política de suprimentos e gestão de resíduos

“Se formos mais além, é plausível que a construtora tenha uma política de suprimentos que exija da obra essa nova cultura, revertendo os benefícios para a supply chain”, ensina.

Basta lembrar que a aquisição de materiais é feita, usualmente, já considerando as perdas que virão tanto no transporte quanto no uso. Ou seja, a empresa paga por um produto sabendo que parte dele vai virar resíduo e, depois, volta a pagar pela coleta, transbordo e deposição final.

Segundo Luchezzi, quando a equipe de produção é orientada para a correta destinação dos itens inertes, automaticamente cuidará para evitar a quebra de materiais.

Esses procedimentos poderiam ter como principal aliado o engenheiro civil. “Porém, ele tem dificuldade de valorizar e acaba negligenciando a implementação da gestão de resíduos. Porque não teve essa formação na universidade”, diz.

A construção civil precisa quebrar alguns paradigmas, como comprar materiais em quantidades menores para evitar danos na sua armazenagem no canteiro. O contra-argumento é de que essa prática leva ao aumento no custo do frete.

“A avaliação do custo do frete versus custo do desperdício pode ser feita pelo engenheiro civil, para ter uma base de argumentos”, orienta, acrescentando que, se a indústria de vários outros segmentos conseguiu diminuir muito o desperdício, a construção civil também consegue.

Logística reversa das embalagens

Tomando como exemplo a indústria automobilística, praticamente todos os componentes do automóvel chegam em caixas que, depois de esvaziadas na montadora, retornam para os fornecedores.

O professor afirma que é preciso fomentar essa prática na cadeia da construção civil. Para viabilizar, será preciso desenvolver embalagens próprias para a entrega em obras.

Os metais sanitários, por exemplo, não precisam ser acondicionados de maneira fracionada em blister. Dezenas deles podem ser transportados em embalagens retornáveis, protegidos por plástico bolha ou outra solução, a depender do desenvolvimento.

“Ao serem devolvidas para o fabricante para reutilização, essas embalagens já não se tornarão resíduos. Consequentemente, a construtora evita desembolso com caçamba e o fornecedor com a produção de nova embalagem, resultando em economia para toda a cadeia”, expõe.

O exemplo deve vir de cima. ” Celso Luchezzi

Caberá à área de compras desenvolver, em parceria com o fornecedor, novas embalagens e sua logística reversa, informando o que necessita.

Porém, a diretoria e todas as áreas da construtora devem se aprofundar no conhecimento das oportunidades que podem advir do bom gerenciamento dosa boa gestão de resíduos.

“O exemplo deve vir de cima”, conclui Luchezzi.

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Redação AECweb / Construmarket


Colaboração técnica

Celso Luchezzi – Mestre em Engenharia de Materiais (Mackenzie), tem MBA em Logística Empresarial (FGV) e é tecnólogo em Processos de Produção (FATEC) e matemático. Atua como diretor na Luchezzi e Treinamentos e Consultoria em Logística e SCM e como consultor internacional.

Escreve sobre Logística Reversa na Construção Civil. Professor universitário de instituições como Mackenzie, Fatec, Anhembi-Morumbi, INPG e BI International para cursos de graduação, pós-graduação e MBA.

Professor convidado do CIESP, Setrans e SindusCon-SP e Aslog. Possui experiência em planejamento e controle de estoques; redução de estoques e de custos produtivos; logística, SCM e PCP; melhoria de processos; armazenamento de materiais e dimensionamento da capacidade produtiva e 5S em empresas de diversos segmentos e também na construção civil.

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