Confira os atributos de um bom fornecedor

dois homens no canteiro de obras

“Costumamos comparar os critérios de compras das construtoras com um banquinho de quatro pernas. Se uma delas é mais curta que a outra, a pessoa cai do banco. Muitas vezes as compras são feitas com base somente no preço e o que acontece é que o barato sai caro. Fato comum no segmento da construção civil. A construtora, muitas vezes, tem uma experiência ruim com o fornecedor, o desqualifica e acaba a obra com outro fornecedor”, diz Alberto Wunderler Ramos, engenheiro, mestre e doutor em Engenharia de Produção pela Escola Politécnica da USP.

“Ainda assim quando chega o próximo projeto, ela volta a adquirir produtos do mesmo fornecedor somente por causa do preço, que é mais barato”, conclui. Segundo ele, é preciso que o setor considere como principais atributos de um bom fornecedor o preço, a qualidade, a quantidade e, por último, o prazo.

O prazo é uma questão importante. “Quando é necessário que o material seja entregue para amanhã, por exemplo, a construtora precisa estar disposta a pagar um pouco mais caro pelo produto. A qualidade também é essencial. É comum vermos obras que, mesmo depois de prontas, ainda têm uma equipe de manutenção corrigindo os erros cometidos durante a execução do empreendimento”.

“Por fim, temos a questão da quantidade disponível para ser entregue. Se a construtora tem um fornecedor que consegue entregar somente 100 sacos de cimento, mas ela precisa de mil, infelizmente, não servirá”, comenta.

O principal objetivo de um programa de desenvolvimento de fornecedores é formar uma base de prestadores de serviços confiáveis.

“Ou seja, empresas que consigam entregar e cumprir com os quatro atributos citados acima. A responsabilidade de traçar esse programa é também da área de compras, mas não somente dela. É preciso contar com a participação da área técnica. Em alguns casos, é necessário conhecer características de materiais que não estão disponíveis comercialmente e cabe à área técnica informar”, afirma Ramos.

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PRINCIPAIS ETAPAS

Dentro do processo de compras de materiais e serviços, a primeira etapa que necessita de maior atenção é a seleção dos fornecedores. “É comum a área técnica reclamar da área de suprimentos, alegando que compraram um material ruim. Isso ocorre, normalmente, porque a compra foi única e exclusivamente com base nos preços. Entretanto, em muitas situações, é somente essa a informação que o departamento de compras e suprimentos enxerga, por não saberem que tecnicamente um determinado fornecedor pode ser bom ou não. O material é comprado como uma commodity”, explica o engenheiro.

O fornecedor tem a obrigação de entregar produtos com qualidade Alberto Wunderler Ramos

Outra fase relevante é a de verificação da qualidade do material. “Se há uma especificação e o fornecedor não entrega dentro do combinado, a construtora, ao perceber que há um problema de qualidade, deve acionar a empresa”, recomenda o professor, lembrando que, no entanto, não é bem isso o que geralmente ocorre. Quando o funcionário do canteiro percebe, durante a descarga do caminhão, que há um problema no material, é comum o motorista perguntar se vai dar continuidade ou se deve carregar de volta todo o produto.

“Voltar tudo para o fornecedor é muita dor de cabeça e, muitas vezes, o que acaba acontecendo é que a construtora aceita o material com desvio. E isso é muito ruim. Afinal, se pagou por um produto com determinada especificação, deve exigir a entrega do material que foi solicitado. A atitude mais acertada nesses casos é a devolução do material. E, caso isso se torne frequente, é recomendado desqualificar o fornecedor. Erros acontecem, mas não podem se tornar recorrentes. O fornecedor tem a obrigação de entregar produtos com qualidade”, alerta.

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Ele completa: “O momento da entrega do produto é quando a construtora verifica se o fornecedor cumpre ou não os prazos estabelecidos. Não adianta dizer que irá entregar uma parte hoje e outra na semana que vem, se a construtora precisa de todo o material já”.

PARCERIA

Segundo o doutor, o termo parceiro está muito desgastado. “Quando se diz a uma empresa que quer ser parceiro dela, no fundo está se dizendo que quer desconto. Eu entendo como parceria um relacionamento de longo prazo, que seja benéfico para os dois lados. O fornecedor tem garantia de que a construtora vai continuar comprando dele e a empresa tem a garantia de que o fornecedor não vai ‘pisar na bola’, vai continuar cumprindo o que foi contratado. Normalmente, uma parceria desse tipo depende muito da frequência com que o fornecedor realiza as entregas.”.

“Se for somente uma vez por ano, dificilmente conseguirá uma parceria. Mas se as entregas forem frequentes, o que se faz, normalmente, é acompanhá-las e à medida que a construtora for adquirindo confiança no fornecedor, mostrando que de fato cumpre os requisitos. Este é o momento de celebrar uma parceria”.

As construtoras buscam realizar parcerias por uma questão de estratégia, normalmente com empresas que fornecem os materiais mais caros ou em grandes volumes.

“Quando se monta uma curva ABC para identificar os fornecedores que, em uma obra, vão custar mais para a construtora, são esses que se costuma trabalhar em primeiro lugar. Mas há casos de parcerias com empresas que fornecem em volume relativamente baixo, porém são extremamente confiáveis. As parcerias podem ser feitas de modo formal, com certificações e premiações, dizendo que determinada empresa é o fornecedor do ano”.

“E, também, de modo informal, quando o comprador por telefone fala ao fornecedor que confia nele e que a parceria é de longo tempo. Evidentemente, isso depende muito do porte da construtora que está adquirindo. Em empresas menores, essa parceria é feita de maneira informal, no contato direto com o comprador ou dono da construtora. Em empresas maiores, por sua vez, são realizados até eventos para certificar os fornecedores pela qualidade dos serviços prestados”, explica Ramos.

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TROCA DE FORNECEDOR

Quando um fornecedor tem um contrato e não cumpre os requisitos, é hora de a construtora procurar outra empresa. É sinal de que um dos quatro atributos – preço, prazo, qualidade e quantidade – não estão sendo cumpridos.

“As construtoras mais formalizadas possuem indicadores para cada requisito e os monitoram. Quando o fornecedor começa a cometer erros frequentes, é preciso ficar atento. E caso o fornecedor não melhore a qualidade, ele deverá ser cortado. Em empresas menores, cabe ao feeling do dono da construtora ou do comprador avaliar como está o desempenho do fornecedor e, se julgarem necessário, decidir pelo corte e troca da empresa”, comenta o mestre.

Quando se monta uma curva ABC para identificar os fornecedores que, em uma obra, vão custar mais para a construtora, são esses que se costuma trabalhar em primeiro lugar Alberto Wunderler Ramos 

Mas, antes de trocar o fornecedor, a primeira questão que deve ser respondida é se há outra empresa que vende o mesmo produto. “Há alguns anos, existiam materiais que só empresas do governo forneciam e, infelizmente, não havia outras empresas fornecedoras do produto, ficando as construtoras dependentes delas. Atualmente, com a globalização do mercado, isso está diminuindo porque há a opção, inclusive, de comprar produtos no exterior”, lembra.

Ramos finaliza ressaltando que o desenvolvimento de fornecedores é um assunto extremamente sério, principalmente na construção civil, já que grande parte dos custos não é com a mão de obra e sim com materiais.

“Hoje a tendência é terceirizar. A parte de caixilharia em edifícios é um exemplo. Não são os funcionários da obra que irão fazer a instalação dos caixilhos. Quem vende o produto é quem vai instalá-lo. Assim, para gerenciar bem os custos, é necessário que a construtora tenha uma base de fornecedores confiáveis. Ainda não se dá toda a atenção que se deveria ao desenvolvimento de fornecedores. Perdendo, muitas vezes, a oportunidade única de redução de custo e aumento de produtividade”.

Redação AECweb / Construmarket

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Colaboraram para esta matéria:

Alberto Wunderler Ramos – Engenheiro, mestre e doutor em Engenharia de Produção pela Escola Politécnica da USP. Especialista em: Total Quality Management (TQM), Sistemas de Garantia da Qualidade e Métodos Estatísticos Aplicados. Consultor de Empresas. Diretor da Productiva Engenharia e Teoria & Prática Desenvolvimento Gerencial. Membro do Conselho e Diretor da Fundação Carlos Alberto Vanzolini.

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