A gestão integrada entre a área de Compras e Suprimentos deve ser entendida como parte da cadeia de abastecimento, constituída pela parte interna – aquela que compra, armazena, disponibiliza para o canteiro – e a estendida, abrangendo desde a matéria-prima até o processo e meios de produção do fornecedor.
O construtor é o último elo consumidor da cadeia de suprimentos e o beneficiário final é o usuário do produto acabado oferecido ao mercado.
“ A gestão integrada entre a área de Compras e Suprimentos é bastante crítica e cumpre importante função na alavancagem de resultados da empresa. Para isso, é preciso comprar bem, reduzindo custos. O ganho vai diretamente para o caixa da empresa”, alerta o professor Manoel de Andrade e Silva Reis, coordenador dos cursos master em Logística e Supply Chain e Logística Empresarial da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
A área de Compras e Suprimentos é bastante crítica e cumpre importante função na alavancagem de resultados da empresa. Para isso, é preciso comprar bem, reduzindo custos. O ganho vai diretamente para o caixa da empresa. ” Manoel de Andrade e Silva Reis
Hoje, é interessante que as construtoras priorizem a área de Suprimentos na sua estratégia empresarial. “A concorrência cresceu e os imprevistos já não são mais aceitos. Portanto, quanto menores os desperdícios e os custos, maior a lucratividade”, observa o professor.
A visão histórica no país, de que resíduos são próprios do processo construtivo, sempre comprometeu os resultados das construtoras. Essa cultura, no entanto, vem mudando desde 2010 com a publicação da lei de gestão de resíduos sólidos.
A geração de volumes menores de resíduos está associada com Suprimentos, mas começa na concepção do projeto, no que tange as técnicas construtivas e à padronização.
“No Brasil, a padronização não é levada a sério. A responsabilidade por esse cenário cabe, além do construtor, às normas técnicas e aos fabricantes de materiais”, lembra, aconselhando os profissionais de compras que se dediquem mais à padronização.
Embora as indústrias não ofereçam padrões muito definidos, os construtores podem focar em determinados tipos de produtos e de fornecedores com essa característica, o que vai melhorar até mesmo as condições de assistência pós-obra.
O mesmo comprometimento vale para materiais mais amigáveis com o meio ambiente, tanto sob o aspecto de resíduos como de poluição, e de uso abusivo de energia e água.
“Até porque a adoção de itens mais sustentáveis também traz a redução de custos”, fala. Porém, Suprimentos apenas compra, quem especifica é o projeto e quem usa é o canteiro. Daí a necessidade da gestão integrada, liderada por um diretor de Supply Chain – “que as construtoras, em geral, não têm”.
Cabe a essa diretoria informar e solicitar aos setores de projeto, de engenharia e de Suprimentos, a identificação de soluções para reduzir o uso de recursos naturais e aprimorar processos.
Suprimentos apenas compra, quem especifica é o projeto e quem usa é o canteiro. Daí a necessidade da gestão integrada, liderada por um diretor de Supply Chain – que as construtoras, em geral, não têm. ” Manoel de Andrade e Silva Reis
“O mundo mudou e não voltará a ser como antes. A concorrência vai ser cada vez maior por qualidade e custos. Sugiro às construtoras que melhorem seus processos, principalmente em Suprimentos, mas sem esquecer que essa área tem que estar conectada às demais. E é essencial que tenham esse diretor de cadeia de abastecimento, para organizar e orientar o conjunto de áreas da empresa”, ensina.
Um dos papéis de Compras é, no contato com os fornecedores, se informar sobre o que está se passando com as mais diversas áreas do mercado. Esse conhecimento permite que a alta administração da empresa tome decisões que tragam melhores resultados.
Manoel Reis exemplifica: “ao cotar esquadrias de alumínio, o profissional de compras detecta que a subida de preço do metal na London Metal Exchange (LME) impactou o custo do produto final. A construtora pode, então, optar por caixilhos de PVC ou de outro material”.
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Espera-se, portanto, que seja uma competência de Suprimentos compreender o mercado e fazer previsões. Ao transmitir a análise, a direção da construtora poderá fazer escolhas inteligentes, num momento de mudanças no mercado que serão cada vez mais frequentes. “Porque o ciclo de vida dos produtos está diminuindo. Os produtos se mantêm utilizáveis, porém, se tornam obsoletos mais rapidamente do que no passado, substituídos por itens mais modernos”, ressalta.
O fornecedor, por sua vez, é fonte de ideias e tecnologias que podem ser inovadoras e úteis, pois está em contato direto com o que acontece na sua área, com outros clientes e parceiros, além de ter um olhar externo à necessidade da construtora.
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Redação AECweb / Construmarket
Colaboração técnica sobre gestão integrada
Manoel de Andrade e Silva Reis – Engenheiro Naval e Mestre em Engenharia pela Escola Politécnica da USP. PhD pelo MIT – Massachusetts Institute of Technology.
Na Fundação Getúlio Vargas é professor de Logística e Supply Chain, coordenador dos Cursos Master em Logística e Supply Chain e Logística Empresarial do GVpec – Programa de Educação Continuada.
É coordenador de projetos da FGV Projetos, onde desenvolve temas associados a transportes, portos, mobilidade urbana e cidades inteligentes. Já desenvolveu estudos e assessorias para Secretaria de Logística e Transporte do Estado de São Paulo, Metrô-SP, NTC & Logística.
Atua na formação e reciclagem de profissionais, ministrando cursos e palestras sobre logística, administração da cadeia de abastecimento e transportes. É representante da FGV-EAESP no APICS Supply Chain Council.