Gestor de suprimentos deve garantir custo, prazo e qualidade

Canteiro de obras

Redação AECweb


Em dez anos, o mercado da construção civil sofreu inúmeras mudanças, reposicionando o papel e a abrangência de áreas críticas das construtoras. Em uma breve análise, Heitor Haga, engenheiro e professor na Faculdade de Engenharia da FAAP, afirma que antes de 2007 a gestão de suprimentos tinha como foco a compra ou a contratação de um bom material ou serviço que garantisse o menor preço, ou seja, era uma preocupação voltada para o custo da obra em si. A qualidade e os prazos da obra estavam garantidos e era de responsabilidade principal do gestor ou engenheiro da obra.

“A partir de 2007, se deu o crescimento do setor de construção e este não ocorreu de forma uniforme, ou seja, por todos os elementos da cadeia produtiva da construção. Nessa primeira fase de crescimento, apenas o subsetor de construção de edificações residenciais e comerciais cresceu e de forma rápida. Os outros elementos da cadeia, como os produtores de materiais, os produtores de equipamentos, os fornecedores de insumos – aqueles elementos do início da cadeia – se viram pressionados a atender a grande demanda com rapidez”, explica Heitor Haga.

Os resultados foram, em 2008 e 2009, as especulações de falta de materiais. “Ocorreu, sim, a falta de material, mas foi pontual e localizada”, diz Haga, que continua: “O setor de produção e comercialização de materiais conseguiu se mobilizar rapidamente para promover um aumento da sua capacidade produtiva”. Haga explica que existem aí dois elementos quando se refere aos fornecedores de materiais: existem os que produzem e os que comercializam. Tanto um como o outro sofreram com o volume crescente de obras e passaram por problemas distintos. “Os primeiros tiveram que aumentar sua capacidade produtiva para acompanhar a demanda. Os fornecedores sofreram com a especulação da falta de materiais, mas evoluíram nos seus processos de logística, na busca da garantia da entrega dos materiais”.

O engenheiro alerta que esse aumento não está concretizado e que o setor da construção ainda está em processo de adaptação. “Não existe falta de materiais, mas isso passou a ser foco de preocupação, pois não há garantias de prazos de entrega. A falta de mão de obra especializada, atualmente sentida pelas construtoras, se reflete na perda da qualidade dos serviços”.

CRESCIMENTO RÁPIDO E EM POUCO TEMPO

Segundo o professor, a área de gestão de suprimentos foi diretamente impactada, com duas conseqüências práticas. Os gerentes de suprimentos perceberam que planejar antecipadamente suas compras e contratações passou a ser essencial para suas atividades. E, depois, o gestor teve que ampliar sua visão e campo de atuação – algo mais complicado no cotidiano. “Costumo chamar esta última mudança de postura de ‘visão sistêmica’, que é considerar que não basta uma compra bem feita para garantir o custo de uma obra, mas também todas as outras atividades que fazem parte do processo de aquisição de materiais, ou seja, do processo de suprimentos. Os gestores devem garantir que a entrega, o recebimento e, inclusive, a aplicação e o pagamento do item devem também ocorrer de forma eficiente”, defende Haga.

Esse amadurecimento do gestor de suprimentos também alterou sua relação com o fornecedor, pois este precisou evoluir para colocar em prática o que já se praticava em outros setores: o trabalho em parceria. “Quando isso se torna difícil, os gestores podem desenvolver ferramentas para gerenciar esta relação de parceria. São ferramentas de qualificação e de avaliação de fornecedores que não devem ser utilizadas para identificar os maus fornecedores, mas sim os bons, pois eles serão seus principais parceiros”, destaca Haga. Isso não significa que novas metodologias ou ferramentas sejam necessárias. “Existem as já consagradas, que estão presentes nos sistemas de gestão da qualidade. Deve-se apenas garantir que sejam aplicadas de forma correta, buscando o melhor para todos os envolvidos: fornecedores, empreiteiros e a própria construtora”, afirma.

O NOVO PAPEL DO GESTOR DE SUPRIMENTOS

O principal impacto dessas mudanças na gestão de suprimentos, representado pelo seu gestor, é que agora ele deve se preocupar em coordenar atividades que possam garantir não apenas os custos, mas também os prazos e a qualidade das obras. “A partir desse novo cenário, além de responder pela aquisição de suprimentos, o gestor deve dar apoio importante em orientações, acompanhamento e ações que possam garantir a aplicação do material ou serviço conforme o que foi contratado ou comprado”, explica Haga.

Segundo Haga, os principais gargalos nas construtoras são o despreparo e desconhecimento em técnicas e ferramentas de gestão, tanto por parte do responsável do gestor de suprimentos, como pelo gestor da obra. “Esses profissionais trabalham atualmente sob constante pressão e pecam por não conseguirem fazer uma análise gerencial dos seus desafios diários. Dessa forma, não priorizam suas ações ou não dão a devida atenção àquilo que realmente merece um maior empenho. Ferramentas simples de gestão da qualidade são suficientes para superar alguns gargalos do setor. A resistência à industrialização da construção, por exemplo, ainda não está totalmente superada, pois além de envolver mudanças culturais e técnicas, dependem também de uma evolução gerencial dos seus agentes”, afirma.

Haga acredita que hoje não existem fatores críticos para a gestão de suprimentos, mas diz que há um obstáculo a ser superado para uma gestão eficaz. “Os gestores devem passar por um processo de evolução, caracterizada pela mudança na sua forma de pensar, tentando visualizar os problemas antes que eles ocorram e criar ações para evitá-los. Do ponto de vista prático, é planejar visualizando os cenários possíveis e criando as ações tanto quanto são necessárias para controlar os suprimentos, por todo o processo de construção”. Ele conclui com uma citação de sua tese de doutorado, na qual diz que “o momento é fantástico, não porque o setor da construção está economicamente crescendo, mas porque permite que o crescimento se dê do ponto de vista técnico e gerencial. O cenário atual é bastante favorável à quebra de um paradigma importante nos processos produtivos da construção civil nacional: a passagem da construção artesanal para a construção industrializada. O cenário apresenta condições para que o setor da construção brasileiro alcance, em termos tecnológicos, os níveis de inovação encontrados nos países desenvolvidos”.  


COLABOROU PARA ESTA MATÉRIA

Heitor Cesar R. Haga é engenheiro civil pela Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo (1995). Mestre em Engenharia de Produção pela mesma universidade (2000). Doutor em Engenharia Civil pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo da USP (2008). No campo acadêmico desenvolve estudos e projetos de pesquisa em Engenharia de Construção Civil e Urbana e também auxilia no desenvolvimento de cursos de capacitação técnica e gerencial para profissionais destas áreas. Atualmente é professor da Faculdade de Engenharia da FAAP e da Faculdade de Engenharia São Paulo – FESP, ministrando disciplinas de graduação nas áreas de urbanismo e de gestão, qualidade e planejamento de obras de engenharia civil. No campo profissional iniciou-se como Engenheiro de Obras e posteriormente como Engenheiro de Planejamento e Acompanhamento de Obras e Engenheiro da Qualidade, em empresa de construção civil. Atualmente é consultor em Sistemas Integrados de Gestão, implantando ferramentas gerenciais e tecnológicas nas empresas de construção e capacitando os profissionais de engenharia.

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