Piso Cerâmico: escolha conforme o ambiente

Profissionais sabem pouco sobre pisos cerâmicos – produtos normalizados e que pedem atenção na especificação.

Quando chega o momento de escolher o piso cerâmico para as várias dependências de um empreendimento é preciso levar em conta alguns fatores. A engenheira de materiais, Ana Paula Margarido Menegazzo, superintendente do CCB – Centro Cerâmico do Brasil, explica que o comprador deve primeiro definir se o revestimento será usado em ambiente interno ou externo, se terá contato com água, areia, produtos químicos e o tipo de tráfego que irá suportar. Depois, afirma, o ideal é conversar com a empresa fabricante para saber quais os produtos mais adequados para cada situação.

“Ao definir o tipo de revestimento cerâmico que pretende utilizar é essencial que o comprador se preocupe com a funcionalidade que o produto deve desempenhar”, afirma Ana Paula. Segundo ela, tanto os especificadores/compradores das construtoras, quanto os vendedores das lojas sabem muito pouco sobre os produtos. “O setor enfrenta esse problema”, diz ao comentar que ainda hoje existe arquiteto que escolhe o material levando em conta apenas qual é o mais bonito, sem se preocupar se é o mais adequado.

Entretanto, diz, é comum a compra ser realizada com base no menor preço, por desconhecimento das especificações de cada produto. “O maior problema do relacionamento entre os compradores e os fornecedores é que o mercado é regido por preço e, muitas vezes, a comparação de valor é feita entre produtos de características diferentes. Isso ocorre por desconhecimento técnico do pessoal de compra e até mesmo de engenheiros”, afirma.

COMO COMPRAR PISO CERÂMICO?

Ela lembra que, além do preço e da beleza do produto, outros fatores devem ser analisados. “O comprador deve se preocupar com a resistência do piso a produtos químicos, com sua taxa de absorção de água, resistência ao escorregamento, resistência mecânica, resistência à abrasão e facilidade de limpeza”. E cita como exemplo medidas simples que nem sempre são levadas em conta. “Se o piso estiver assentado em um ambiente externo, considerado como área molhada, o produto precisa ter rugosidade superficial mais elevada para minimizar acidentes. Se for para imóvel no litoral não é recomendado o uso de produtos brilhantes, pois a ação da areia costuma provocar riscos”, orienta.

O comprador também deve obedecer aos cinco itens de classificação PEI – Porcelain Enamel Institute. A entidade regulamentou as normas da resistência à abrasão superficial, ou seja, o desgaste da superfície da cerâmica frente ao tráfego de pedestres. O fenômeno ocorre devido ao atrito da sola dos calçados impregnada com partículas abrasivas como areia, pequenas pedras e terra sobre a superfície da cerâmica. Por isso, diz Ana Paula, é fundamental a escolha do produto correto de acordo com sua utilização. “As fábricas indicam nas embalagens a resistência do produto conforme sua classificação PEI ou local de uso, o que auxilia na escolha correta (conforme a tabela abaixo)”.

PEI 0 – material é para uso exclusivo em paredes;
PEI 1 – para locais de baixíssimo tráfego;
PEI 2 – locais de baixo tráfego;
PEI 3 – ambientes de médio tráfego;
PEI 4 – alto tráfego;
PEI 5 – locais de altíssimo tráfego.

O comprador, segundo ela, deve identificar exatamente quais são as solicitações do ambiente em que o produto será utilizado para poder fazer a escolha adequada. Se a superfície do piso for rugosa, ele é mais resistente ao escorregamento, mas as condições de limpeza da superfície ficam comprometidas. Portanto, não deve ser indicado para áreas em que a higiene é fundamental. “Banheiros, por exemplo, exigem assepsia. Nesse caso, os pisos indicados são os lisos, mas isso torna o box escorregadio, demandando cuidados dos usuários”, comenta.

NORMAS TÉCNICAS DE PISO CERÂMICO

Ana Pauta explica que existem alguns mecanismos que auxiliam na escolha do revestimento cerâmico correto para cada situação, como a norma técnica NBR 13818 da ABNT, que regulamenta as características técnicas das placas cerâmicas para revestimentos de pisos e paredes. Tem, ainda, a norma de desempenho NBR 15575/3, que traz os requisitos para o desempenho do conjunto que forma o piso, incluindo acabamentos que estão sujeitos a desgastes, e os seus substratos, que podem gerar ruídos em edificações multipavimentos. A norma NBR 15.463, por sua vez, trata das características dos produtos denominados porcelanatos.

Na hora da compra, explica, o comprador deve atentar se o produto é destonalizado, ou seja, se apresenta variação de tonalidade intencional ou não. Após a compra é importante checar se as embalagens são do mesmo lote de fabricação, mesma tonalidade e mesma bitola. “O ideal é sempre discutir as características de uso com os fabricantes, que sabem indicar a melhor opção de piso cerâmico para cada local. Especificar o produto correto conforme local de uso pode até encarecer um pouco a compra, mas com certeza, valoriza a obra e evita problemas futuros”, afirma.

CENTRO CERÂMICO

O Centro Cerâmico do Brasil, CCB, criado em 1993, tem como objetivo desenvolver e implantar normas técnicas e certificar a qualidade dos produtos cerâmicos e dos sistemas de gestão (ISO 9000 e ISO 14000), bem como atuar como uma entidade tecnológica do setor cerâmico. Como Organismo de Avaliação da Conformidade (OAC) acreditado junto à Coordenação Geral de Acreditação do INMETRO, o CCB atua junto aos fabricantes de cerâmica para revestimento, telhas e blocos cerâmicos, telhas de concreto e argamassas de rejuntamento.

O CCB possui em Santa Gertrudes-SP, um Centro de Inovação Tecnológica em Cerâmica – CITEC/CCB -, que dispõe de infraestrutura laboratorial, acreditada pela Divisão de Acreditação de Laboratórios do INMETRO, para realização de ensaios para certificação e de controle de qualidade de produto e processo. O CITEC/CCB tem atuado na pesquisa e desenvolvimento de produtos cerâmicos, principalmente na interface universidade-empresa.

Redação AECweb / Construmarket

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COLABOROU PARA ESTA MATÉRIA:

Ana Paula Margarido Menegazzo
Possui graduação e mestrado em Ciência e Engenharia dos Materiais pela Universidade Federal de São Carlos (UFSC) e doutorado em Tecnologia Nuclear pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente é Superintendente do CCB – Centro Cerâmico do Brasil. Tem ampla especialização na área de revestimentos cerâmicos; é coordenadora da Comissão de Estudos de Placas Cerâmicas para Revestimento da ABNT (CE 189:000.01); foi relatora do Grupo de Trabalho que revisou a norma de Desempenho de Edificações ABNT/NBR 15575 – Parte 3 (Pisos) e é coordenadora de vários projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação junto à FINEP e CNPq.

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