Qualificação de compradores aumenta a assertividade nas compras

Dois engenheiros olhando o projeto de uma obra

qualificação dos profissionais da equipe de compras e suprimentos das construtoras inclui, hoje, conhecimentos de muitas disciplinas, entre elas tecnologia da informação. Segundo a engenheira Francisete Morais, gerente de Suprimentos da Lock Engenharia, é fundamental a formação em engenharia, pois ela permite ao comprador discernimento entre as várias tecnologias disponíveis e exigidas pelos projetos contemporâneos de edifícios, principalmente dos corporativos.

“Nesses empreendimentos, não se pode perder um único dia nas compras ou na entrega dos materiais”, diz, acrescentando que já atuou como engenheira de campo e sabe que quem está na linha de frente, no canteiro, não pode permitir a paralisação das atividades programadas. Para garantir agilidade, ela conta com um corpo técnico e áreas correlatas como a de gestão de projetos, além de informações geradas pelo BIM (Building Information Modeling).

“Ao receber a lista de materiais do BIM, eu já sei o que tenho que comprar. E cada membro da equipe de suprimentos vai atuar na especificidade da sua melhor qualificação. Tudo isso torna o processo bastante rápido”, afirma. A gerente não conta com profissional especializado em TI, mas com corpo técnico voltado para a engenharia de sistemas otimizados, que se atualiza constantemente através de cursos e congressos. “A soma desses recursos me oferece as soluções prontas, permitindo agilidade nas compras”, completa.

INOVAÇÕES

Diante da especificação de produto ou sistema totalmente inovadores, ou ainda pouco utilizados pela construção civil, é primordial que a área de compras tenha, no mínimo, um engenheiro. “Ele pode se aprofundar no estudo do item. E mesmo que não seja especialista naquela disciplina, tem uma formação generalista que lhe permite fazer uma avaliação crítica para identificar qual a melhor solução oferecida pelo mercado”, recomenda a gerente.

Diariamente, os projetos de construções comerciais demandam novas tecnologias, instigando a equipe de suprimentos a buscar, estudar e entender para melhor comprar. “Os escritórios de arquitetura parceiros da Lock estão empenhados em incorporar essas inovações aos projetos. E, quando identificamos uma opção melhor, nos unimos ao arquiteto para encontrar as informações necessárias”, conta.

Ao receber a lista de materiais do BIM, eu já sei o que tenho que comprar. E cada membro da equipe de suprimentos vai atuar na especificidade da sua melhor qualificação Francisete Morais

EXEMPLOS

Para a gerente de Suprimentos, por mais tecnologia que um sistema inovador embarque, não há desafios intransponíveis para o seu entendimento e aquisição. E oferece alguns exemplos: “As fachadas dos edifícios projetados com pele de vidro terão um calor latente elevado num país tropical como o nosso. Se faço uso de sistema operacional inteligente que controla as interfaces entre fachadas, persianas e condicionamento de ar, obtenho ganhos de eficiência energética. O sistema é programado para identificar que houve um aumento de temperatura e, automaticamente, faz descer as persianas”, destaca.

Outro exemplo é o da sala de reuniões. Mediante o aumento do número de pessoas presentes, o sistema de ar-condicionado constata que o nível de CO2 está mais alto e insufla mais ar, sem a necessidade da ação humana. O mesmo vale para o sistema de iluminação com sensores, que, terminada a reunião, desliga as luzes depois de 30 segundos ou um minuto, conforme a programação do temporizador. “Tudo isso é visualizado numa tela de computador. São soluções de operação que podem ser bem aproveitadas pela área de facilities do edifício”, acrescenta.

MELHOR COMPRA

Mais do que cotar, o departamento de compras e suprimentos ocupa-se de fazer a equalização técnica dos materiais com o projeto. “Nem sempre o melhor preço é a melhor condição técnica para que façamos a contratação. A solução deve contemplar todas as condições exigidas pelo projeto. Se estou comprando ar-condicionado, o melhor fornecedor é aquele que vincula esse sistema e suas interferências com as demais disciplinas, como a elétrica”, explica.

Nem sempre o melhor preço é a melhor condição técnica para que façamos a contratação. A solução deve contemplar todas as condições exigidas pelo projeto Francisete Morais

Seguindo no exemplo, a gerente de Suprimentos verifica se o ar-condicionado oferecido com o melhor preço terá, em longo prazo, a melhor performance energética. Caso o projeto não tenha feito esse tipo de escolha, a construtora procura defender junto ao cliente a melhor solução técnica, mesmo que inicialmente o custo seja maior.

Entre as fontes de informação para o setor de compras, a gerente destaca as consultorias de sustentabilidade e eficiência energética e os próprios fabricantes. É o caso do setor de louças e metais sanitários, que pesquisa e desenvolve constantemente produtos economizadores de água. O mesmo vale para o segmento de condicionadores de ar, que investe para a obtenção de sistemas com maior eficiência energética.

CONTRATO GLOBAL

A oferta de sistemas e produtos que incorporam tecnologias de ponta se ampliou a partir do momento em que os edifícios, no Brasil, passaram a receber escritórios de empresas multinacionais. Elas já padronizaram, em âmbito mundial, os itens mais sofisticados que fazem parte da obra. Em muitos casos, têm contratos globais de fornecimento.

“De um lado, isto é bom porque o fornecedor trata as obras das filiais como uma única empresa, com grande redução do custo unitário. Por outro lado, as empresas fornecedoras brasileiras são de menor porte e não conseguem competir com esses fabricantes, também multinacionais”, observa. Independente da sugestão do cliente, a construtora abre a cotação para os demais fornecedores, para ter certeza de que está comprando pelo melhor preço.


Redação AECweb / Construmarket


Colaboração técnica

Francisete Morais – Engenheira civil pela Faculdade de Engenharia São Paulo; pós-graduação em Administração pelo Centro Universitário FEI. É gerente de Suprimentos na Lock Engenharia, responsável pelas compras da área corporativa de São Paulo e Rio de Janeiro.

Atua em projetos de destaque como o dos edifícios do Linkedin, Amazon, P&G, Hypermarcas, BSL, Best Center, Kimberly, Cargill, Albert Einstein, Apple, Toyota e BMW. Foi coordenadora de obras responsável pela execução do escritório Google Brasil, que conquistou a certificação Leed Platinum de interiores (SP).

Como engenheira, assumiu a execução da obra de call center e sede da diretoria CVC Turismo e do Escritório Advogados Mattos Filho.

administrator:

This website uses cookies.