Há uma grande diferença entre comprar materiais de prateleira e sistemas industrializados. “Sistema é um conjunto que engloba materiais, serviços e gestão, podendo abranger projeto e ferramentas”, detalha o engenheiro Tomás Freire, diretor da GSO, consultoria em compras e Supply Chain.
Um exemplo é o sistema de vedação vertical, que pode ser em alvenaria construída in loco ou em drywall. No formato tradicional, a área de Suprimentos adquire os materiais, ferramentas e mão de obra, além do projeto de alvenaria, para execução pela própria construtora.
Outra possibilidade é contratação de uma empresa terceirizada que fornecerá todos os itens listados, fará a gestão e a execução. Já os sistemas industrializados, ou seja, o drywall, é produzido integralmente na indústria e adquirido completo, para montagem na obra.
Contratar sistema exige conhecimento técnico mais aprofundado, envolvendo as oportunidades de negociação. Naturalmente, traz maior risco de gestão, porque é essencial contratar fornecedor capacitado. ” Tomás Freire
Segundo Freire, para a área de Suprimentos, é muito mais fácil comprar os insumos separadamente, porque são praticamente commodities, basta seguir as especificações.
“Contratar sistema exige conhecimento técnico mais aprofundado, envolvendo as oportunidades de negociação. Naturalmente, traz maior risco de gestão, porque é essencial contratar fornecedor capacitado. E tem mais: substituí-lo por outro é muito mais complicado do que trocar o fornecedor de insumos”, explica.
Por outro lado, a gestão do contrato de um fornecimento de sistema industrializado é mais fácil do que a de vários insumos, que pede atenção constante do gerente da obra com o cronograma de entrega, recebimento dos materiais e produtividade da mão de obra, entre outras tarefas.
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Vantagens
De acordo com Freire, as grandes construtoras possuem corpo técnico qualificado para contratar sistemas como execução de fôrmas, caixilharia e serviços de fundação, entre outros.
Muitas vezes, essas empresas mantêm equipes específicas para as aquisições de materiais e as de serviços. Geralmente, tratam os sistemas industrializados como serviços.
“Sempre que fazemos a conta na ponta do lápis, identificamos que uma boa contratação de sistema, principalmente para aquelas atividades que estão mais dominadas, é mais vantajosa e se paga”, defende.
Sempre que fazemos a conta na ponta do lápis, identificamos que uma boa contratação de sistema, principalmente para aquelas atividades que estão mais dominadas, é mais vantajosa e se paga. ” Tomás Freire
O modelo de gerir contratações, mão de obra, serviços e vários agentes no canteiro tem impacto negativo em produtividade e prazos – condições que respondem por um dos maiores custos na obra. Para Freire, esse formato está fadado ao prejuízo e insucesso.
“A produtividade da mão da obra na indústria é muito superior à do canteiro, porque o ambiente é mais propício pela repetibilidade, com melhor qualificação e baixo turn over. Na obra, há muitos fatores que ameaçam a produtividade, o desempenho e o prazo”, lembra.
Sistemas industrializados complexos
Nas empresas de construção civil, a área de Suprimentos está, em geral, subordinada à diretoria de Engenharia. Por um lado, ela tem pouca liberdade de mudança na especificação, que já foi definida pelo projeto e pela engenharia, mas, por outro, pode oferecer alternativas.
“Uma das missões da equipe de suprimentos é questionar internamente se aquela solução é a mais adequada e, junto aos fornecedores, identificar oportunidades de melhoria e de racionalização”, fala o especialista.
A opção por sistemas nasce no projeto, caso contrário, no improviso, não dará certo. ” Tomás Freire
Quando a compra envolve sistemas mais complexos como aquecimento de água ou tratamento de água pluvial, naturalmente é preciso ouvir profissionais e empresas fora da construtora, que dominam a tecnologia.
E o ideal é envolver a equipe de Suprimentos desde o projeto, momento em que se especulam as alternativas, verificando a viabilidade junto à área de orçamentos.
“As grandes construtoras atuam dessa forma”, afirma. A pesquisa, o aprofundamento e a escolha desses sistemas são feitos por instâncias como a de desenvolvimento tecnológico e de projetos.
Freitas critica a conduta, decorrente da falta de conhecimento técnico, de substituir sistema inovador por outro, nada similar, e de performance abaixo do requerido pelo projeto.
“Esse é o caso típico do raciocínio de curto prazo, quando não se considera o desempenho futuro e se dá uma solução caseira, pagando elevado preço lá na frente”, comenta.
A causa, segundo ele, é o fato de o país estar formando engenheiros ‘no atacado’, que não conseguem fazer uma análise técnica com mais profundidade, adotam uma visão imediatista, e pior, não entendem de projeto.
Ou seja, o problema é muito anterior à fase de compras. “A opção por sistemas nasce no projeto, caso contrário, no improviso, não dará certo”, conclui.
Redação AECweb / Construmarket
Colaboração técnica
Tomás Freire – Engenheiro Civil pela Universidade Federal da Bahia (UFBA); mestre em Engenharia Civil pela Universidade de São Paulo (USP); com MBA pela Lehigh University (EUA).
Executivo com mais de 20 anos de experiência em empresas de médio e grande porte, no Brasil e no exterior, com forte competência em Gestão. Passou por diversas áreas da Engenharia Civil, Investimentos Imobiliários, Suprimentos e Administração Empresarial.
Grande vivência em posições de diretoria e gerência estratégica. Professor dos programas de MBA na USP entre 2004 e 2010 e do MBA da UNIFACS desde 2011, ministrando aulas nas áreas de Planejamento Operacional, Custos e Gestão Estratégica.
Membro do IBEF – Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças. Atualmente, está à frente da GSO, empresa que fundou, com foco em serviços de Compras e Consultoria em Supply Chain para empresas de médio e grande porte inseridas nas diversas áreas da economia.