Redação AECweb / Construmarket
O setor da Construção Civil vive em constante evolução e a atuação do gestor de compras tem acompanhado esse movimento em busca de qualidade superior e custos reduzidos. Segundo o diretor executivo da Conspar Urbanismo, professor Rodrigo Sabino, no passado a função era mais voltada para negócios. Hoje, o trabalho do comprador envolve a execução do orçamento, o estudo da viabilidade técnica e segue até a entrega da obra.
O gestor de compras participa desde o planejamento do projeto e, quando entra na fase de obra, já tem os valores dos insumos, a relação dos fornecedores, a capacidade de entrega de cada um, e a especificação dos materiais, embora a compra ainda não tenha sido efetuada.
A integração dos grupos de projeto, de compras, obras e planejamento é muito importante para o sucesso da obra. “Esses departamentos brigam muito quando não se comunicam. Um joga o erro nas costas do outro. Debatemos isso em sala de aula no Instituto Mauá de Tecnologia e os próprios alunos chegam à conclusão de que, se houvesse integração em suas empresas, as falhas poderiam ser reduzidas”, afirma.
PRECISÃO É ESSENCIAL
Rodrigo Sabino diz que há alguns anos era comum o orçamentista ter dados desatualizados em sua planilha e isso gerava erros de custos na execução da obra. Atualmente, os valores constantes do orçamento são efetivados na compra, por isso os dados têm que estar atualizados. Ele explica que o gestor tem que saber identificar em seu portfólio de fornecedores aqueles que conseguem cumprir prazos e têm produção suficiente para atender cada tipo de obra. “Existem casos em que a empresa oferece bom preço, cumpre prazos, mas não tem volume de produção. Se o comprador escolher um fornecedor com esse perfil para uma grande obra devido ao preço, com certeza terá problemas”, opina.
PREVISÃO
É importante que a equipe de compras participe do planejamento da obra. E, de acordo com o especialista, é nessa fase que o gestor avalia as condições do fornecedor, sua capacidade financeira e de produção, a localização da obra, trace a logística de suprimentos, e defina quantas empresas vão fornecer para determinada obra durante o ano. Existem, entretanto, produtos como aço, concreto e cimento, para os quais não é possível fazer este tipo de previsão. “Nesses casos, ainda na fase de planejamento, é importante fechar um contrato para garantir o fornecimento para toda a obra. Mesmo assim, o gestor corre o risco de não receber o material, pois eles podem atrasar devido ao aumento da demanda ou revisão de valores”, explica.
Sabino cita como exemplo a construção da garagem de uma unidade do Exército, próximo ao morro da Urca, no Rio de Janeiro (RJ). “Há dois anos tive que importar aço da China porque o fornecedor teve que reajustar os valores e estava com dificuldade de cumprir o prazo. O material chegou pelo porto de Vitória e teve que ser transportado por terra até a obra. Foi uma logística e tanto, sendo que temos indústrias de aço no Rio”, diz.
GESTÃO DE COMPRAS X SUCESSO
Para ele, o gestor de compras está diretamente relacionado ao resultado da obra. Ele é fundamental para o cumprimento de custos e prazos, e se compromete com isso já no planejamento. Durante a execução, acompanha o que foi planejado, verifica datas, quantidade de material utilizado e necessidades futuras. “Há casos em que o comprador cobra do engenheiro a emissão do pedido para determinado insumo com o objetivo de evitar atrasos na entrega do material. Na Conspar, implantamos esse processo de integração há quatro anos e os desvios de projeto, que eram de 10% a 15%, foram reduzidos para 4%. O ganho foi muito significativo”, comenta.
O professor orienta que os departamentos técnicos da empresa devem ser aliados visando o sucesso dos projetos. Além disso, é fundamental a elaboração de um bom plano de comunicação a ser criado ainda na fase de planejamento. A planilha de gestão de compras deve ter cada passo da obra muito bem documentado.
PERFIL IDEAL
Ao traçar o perfil do novo comprador, Sabino diz que o profissional deve ser dinâmico e capaz de trabalhar sob pressão. Precisa conhecer a cadeia produtiva e a especificação dos materiais. Mas não é necessário que o gestor de compras seja engenheiro, basta ter bons conhecimentos de logística, matemática financeira, contabilidade, administração de empresas e entender das questões tributárias, que pesam muito no custo final da construção.
Para ele, a contratação de mão de obra não deve ser obrigação do gestor de compras. Neste caso, defende a atuação do engenheiro de obras. “As exigências são outras, tanto na modalidade de contrato quanto na avaliação da capacidade técnica do fornecedor. Outra opção é que estes contratos sejam feitos pelo gestor de planejamento e controle da empresa. Ele sabe o quanto pode gastar e conhece as taxas de risco, o que ajuda na tomada de decisão”, conclui.
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COLABOROU PARA ESTA MATÉRIA
Rodrigo Sabino Fleury – Diretor executivo de engenharia da Conspar Urbanismo. É professor de pós- graduação do Instituto Mauá de Tecnologia nas disciplinas Gestão do Canteiro de Obras e Planejamento e Execução das Contratações. Administrador de empresas especialista em gerenciamento de projetos. Atua há mais de 15 anos em obras industriais de grande porte, residências e de infraestrutura urbana focado na gestão de portfólio, orçamentos, planejamento e controle, suprimentos e gestão da produção. Tem especialização em implantação de processos de terceirização, estudos de viabilidade técnico-econômica, desenvolvimento de técnicas e sistemas construtivos especiais, gerenciamento de riscos gestão de contratos e análise da cadeia de suprimentos (Supply Chain Analysis).